Quais penas incandescentes desapareceram
das pequenas ossadas emparedadas,
neste corpo roído de suposta bem-aventurança.
Que impedimento me falseia o voar pelas planícies,
já sulcadas,
se tais penas se mortificarão com o meu pulsar.
***
virgílio liquito
*
"Volatilizaram-se as
Doidas quimeras,
Estoiram os "confetis".
Restam os despojos, cinzentos,
Com estes, pela velhice, farei deles
O meu vómito, a náusea, o asco
Que tenho pelo sentimento,
Emparedado dentro de mim."
***
virgílio liquito
*
E o primeiro orvalho caía,
pela madrugada o rouxinol tossia.
para lá da vidraça um pingo de amor tumultuava no rebordo da cama;
em baixo no curral, drenar-se-ia um rio leitoso de alegria
O boi gania...
Eo primeiro orvalho caía, pela alvorada,
já rouco, o rouxinal tossia.
Para lá da vidraça umas lamas de amor revolviam-se no rebordo da
cama...
Em baixo,
No curral,
drenava-se já um rio leitoso de alegria...
O boi, esse, já nem gemia...
***
virgílio liquito
*
Que deus não nos liberte das crianças que almejamos ser
Concha, criança agrilhoada de todos os cristais eruptivos:
não admitirás quaisquer que sejam as tuas vidas nunca perdidas.
O deus pequeno, badalado, porque admite que o vendesses à prole, saberá recuar face à chama que exalas pela poesia, nem que te queime os estilhaços que te resta de coração.
Nem os claustros esses, te arrancariam do teu grito de liberdade, o qual bem cedo te acariciou, como estigma da tua única vida, sina tua vivida.
És um verbo, em vida, nunca pela puta despercebida de quinquilharias sentimentais, quais revoltas a tua intrínseca criança, já nascida, agarrada à terra amiga, que não te sepultará.
E nesse carril longo, de esperanças, que causas te obrigariam trabalhar a terra que não digerirá; que te permite, contudo, ciciar as palavras intrometidas que te ferem em momentos de interioridade; elas as ditas, jamais deixarão que te fines no coração de quem se drena pelo seu sangue, que te move como se fosses um criancinha, não desaparecida.
***
Virgílio Liquito
*
Claro, eu também semeei uma das raposas. De pálpebras cinzentas. Secas, mas luminosas. Há de facto vulcões de chuva micótica, que não alaga, a não ser uma das montanhas paridas, também pela minha raposa, cuja força estrafegou as cloacas de todos que infernam de obstipação, quiçá Redenta, qual força sepultará com terra a outra Raposa.
De facto, a redução ao nada, passará pelas cascas das ostras, de todos os emparedados. Nietzsche quase o entendia! Mas as orelhas cheiram o nosso odor, o Asco que Exaramos nas bordas peganhosas dos líquidos martelados.
Também borbulham os Paraísos silenciados. Caim tem sido nosso amigo do peito. Mata e fornica em nome do ceifado. E as sementeiras fazem "emanescer", nem sempre, o irreal.
Pois, o Plano erótico, o Inclinado, também, o Conta, nos crucifica, nas cruzetas da gosma ancestral. Provocam intermitências que obrigam a matérias.
São, por serem. E a linguagem, o linguajar, já tentou retirar a racha ao sol. O pescoço, na altura, foi servido pela língua, nem sempre o peixe se peida pela cabeça. Os cogumelos obrigaram as cabeças a aninhá-los, na curvatura da terra.
A Pele, essa fronteira, evita desmanchar o corpo. Que se transforma, nem sempre num timbre calibrante. Que atira para o espaço o gemido, nunca calculado.
Que momentos de tal Beijo, nunca Judas morto. Qual arfar transmite pelos trocadilhos, nem sempre húmidos, porém com bafos de línguas afiadas.
O vento, Incandescente, que trará tais supostos Espíritos Castrados, que não Indignam os Pensamentos Mórbidos, que empurram os corpos a Atravessae a Carne, a carne por vezes nunca dantes navegada.
E a Humidade cálida que sulfatiza relações. os Conceitos Secos, as sucuções que encolhem os corpos Equidistantes, agarrados à Vida.
***
virgílio liquito
porto, 1950
********************
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas