Quarta-feira, 12 de Setembro de 2012
bebida

 

 

bebo onde existe sede.

a mão arrefece com o peso da cabeça.

este silêncio resgata palavras 

para além dos factos magros e esguios.

 

o meu sangue conhece o amor.

leio Östen Sjöstrand

 

lia Östen Sjöstrand há cinco minutos atrás.

alguém me chamou e tudo ficou diferente.

não digo que seja apenas este poema.

não é, claramente, apenas este poema.

 

bebo onde existe sede.

 

***

 

sylvia beirute

 

*


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publicado por carlossilva às 15:04
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Domingo, 15 de Janeiro de 2012
cidade-rapaz

 

quero viver contigo
numa cidade-rapaz
e jantar num restaurante situado no ombro
talvez mais tarde um passeio pelo peito
esconder-me contigo na floresta do peito
oh mas nunca conhecer
esse rapaz que é cidade
nem o seu coração que bate como trovoada
a sua insanidade saudável
mas no final do dia
quero deitar-me contigo
ouvindo a sua respiração suave
{entrando na sua respiração aí suave}
e falar para esta cidade
em forma de corpo indecente
esperando suas reacções mais espontâneas
seus sonhos mais nefastos
e quando a cidade acordar
fingir-nos-emos
mitológicos como a dissolução
dos cúmplices
e viveremos atrás dos olhos
num interstício da alma.

 

***

 

sylvia beirute

 

*

 




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publicado por carlossilva às 13:41
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Terça-feira, 1 de Novembro de 2011
oração de gratidão

 

há toda uma gratidão em aceitar o universo.

todas as pequenas coisas formam uma grande coisa.

há um parentesco desconhecido entre todo o conhecido.

o meu mundo tem ligação directa aos deuses.

há uma força da natureza que age na raiz das constelações.

há um erro que me pensa a fim de me construir.

há uma maneira de aproximar e que me dá todas as matérias.

e todas as matérias são feitas de paz, luz e bons espíritos.

há um compromisso e uma responsabilidade de mim para mim.

o meu dia é a minha caneta, o meu papel.

e no final do dia o universo requer um pensamento

que absorve palavras absolutamente inteligentes

e que o resumem na noite brilhante.

esse pensamento é a devolução do dia em forma

de energia para o sonho seguinte, o dia seguinte, 

um novo passo, um novo começo.

há uma renovação constante em mim

na maneira de me dar e de me devolver.

 

***

 

sylvia beirute

 

*


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publicado por carlossilva às 13:52
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Quinta-feira, 14 de Julho de 2011
deixar que me amem é rodear {eu}

 

deixar que me amem é rodear {eu}
a compreensão de outrem. há actividade nesse lado passivo.
{na mulher sã há mais actividade no
lado passivo que no lado activo.}
e depois substituir o amor: porque a actividade
do lado passivo consegue-o,
uma vez que o optimismo de tal acto
se basta na área da provocação.
{e de resto}, o intestino mantém a sua função,
o aplauso entre duas mãos é injectado de verdade
e música. {os átomos} são aproximados
e isso chega para proibir a monotonia.
{depois disso}, passivamente, o amor é uma hipótese
sobre a beleza que é um acumular de belezas,
sobre a morte que é um acumular de mortes ou vidas,
sobre a vida que é um acumular de vidas ou mortes,
sobre a idade que é a única violência sobre o corpo
e é uma coreografia que avança
ao encontro de DEUS.

 


***

 

sylvia beirute


*


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publicado por carlossilva às 11:42
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Terça-feira, 31 de Maio de 2011
dias debaixo da força das raízes


.
dias debaixo da força das raízes.
sesteando
a lonjura de um infinito menor.
a gramática cresce para silêncio
e é a sensatez que encontra
o título da antítese.
um outro ser ganha o desejo
de um outro.
a sensibilidade é uma questão
de sim ou não.
os dias morrem em varandas
de não casas.
e eu sou um pouco de todos os nadas.
com o caroço de todo o capricho,
a ferramenta de todo o prazer.

 

***

.
sylvia beirute

 

*


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publicado por carlossilva às 16:21
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Quinta-feira, 17 de Março de 2011
a definição do silêncio


porque o tempo é de corpo, {de passagem},
porque a boca é de nomes próprios, do verbo viver-morrer
dobrado sobre si mesmo como duas cores
que se misturam e imitam,
porque a tua borboleta percorre um pequeno país
que bate as asas no sentido oposto,
porque vens sem corpo, por entre os satélites, em
direcção ao amor conclusivo,
porque o lugar que há em ti não tem onde ficar:

O silêncio é a recompensa da tua permanência.

 

mas quem decifra o silêncio, querido herberto,
não é quem permanece.

 

***

sylvia beirute

 

*


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publicado por carlossilva às 10:28
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Sábado, 3 de Julho de 2010
útero

 

procurando a tua cabeça: quero acordar-te, devolver-te

ao meu útero, teu colar planetário,

fazer-te regressar ao sangue de olhos fechados e incubadoras,

soterrar o teu nome no meu nome, o teu movimento

no meu santuário faminto,

a minha culpa e aguaceiros no teu desejo indeciso de

beleza e desvios. dar-me-ás o teu azul

para que o meu vermelho denso o golpeie de ocupação e pele,

para que duas solidões

se aconcheguem e tornem uma só. e depois, mais tarde,
numa meia-noite de existência avulsa, dentro de mim 
dirás o sexo, o sexo

como arredores de um lugar belo.

 

***

 

sylvia beirute

 

(faro, 1984)

 

************************


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publicado por carlossilva às 08:24
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Domingo, 20 de Junho de 2010
no dia da morte de jose saramago {poema de homenagem}

 

 

agora, livre da coadjuvância das afectações: os
deuses se escondem nas artérias do teu
silêncio, na tua fraqueza perfeita porque
sem o hábito de se auto-observar.
voltaste a ti: numa outra intermitência da morte, com
o sublime que é tudo aquilo que ignora um todo e
conduz uma perspectiva até ao quociente interno
de uma invisibilidade que fala através
do teu questionário incicatrizável.
e daí tudo vês: vês-me faltar de propósito à
conclusão do meu poema, vês o peso
da omnipresença do abstracto, da hora antiga,
vês as minhas infâncias e urgências juntas e tar-
dando hoje em se converterem, devolvendo-me
ao que eu era: ao início do dia.

***
sylvia beirute

(faro, 1984)

******************************

 



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publicado por carlossilva às 13:43
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Sexta-feira, 21 de Maio de 2010
cluster

 

e na luz inadequada se move o teu corpo como

algo por dizer,

projectante sem confundir o interior da mão

com um rosto que baixou ao subsolo do silêncio.

e imaginarás algo.

e pegarás no teu ponto. na tua vírgula.

gritarás um verso sem que as palavras individuais

o notem, o oiçam a perfurar o seu

próprio verbo.

e arremessando esse ponto, e essa vírgula, ambos

em direcção ao céu introspectivo e especulativo

das cores que lhe concretizam a profundidade, ganharás

tempo; tempo para que o verso se espalhe a partir

do seu gomo infindável,

contamine o eco difuso da mão de vidro, guarde

o bom-senso de um revólver que espera atento

a morte que falta a um corpo.

e não tarda regressarão caindo com a mesma força

que aquela que usaste para cima: o teu ponto magnífico,

a tua vírgula com material e forma de lupa,

como pregos por cima do teu verso com

formato de raio e cuidado, com laringe de flecha e erro,

com lisonjeio sobre o tempo invertebrado.

quando caírem sobre ti, sobre o teu regresso íntimo,

saberás por onde continuar, e sobretudo: onde parar.

 

 

 

***

 

Sylvia Beirute

 

(faro, 1984)

 

*********************


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publicado por carlossilva às 12:31
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Quinta-feira, 25 de Março de 2010
hierarquia

 

o acto de perguntar é uma confiança expectante,
a veterania de um exemplo acaba por matá-lo,
mas pouco disto é essencial para já:
na poesia, enquanto dilúvio da existência, as
influências do poeta são as veias do seu poema homicida,
veias que carregam químicos dispostos livremente
no corpo, mudando de lugar,
subindo aos olhos que lêem e que tentam
colonizar hemorragias
nos ouvidos puramente visuais.
mas haverá sempre alguém na audiência
que pergunta,
que questiona directamente o poema e o seu exemplo,
alguém que interpela a
legitimidade de quem redige e assina o que é, afinal, da natureza,
alguém que pressente muros de berlim, ouvidos, narizes, ilhas,
simulacros do dessonhado, do oculto.
e nesse momento eu sorrio e não deixa de me ocorrer
que pressentir nem sempre te levará
à infância de um sentimento.


***

sylvia beirute
(faro, 1984)

 

 

***************************


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publicado por carlossilva às 12:29
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