No pretérito éramos perfeitos.
O Espírito Santo – uma anguiforme mulher incandescente com imensos seios e vários braços com corações
: existências em libações de vinho e mel e afectuosas efervescências líquidas.
Sub-repticiamente dúbios necrotérios alojaram-se nos nossos prédios
e assédios de estranhas pombas brancas
substituíram o sinal do coração pelo sinal da cruz.
Então, inválido de nascença, invadiu o [crédito]. do relógio. das chaves. do carro. da casa. das cruzes de ouro. do ginásio. do crédito – o [crédito].
Imperfeitamente atávicos, voltámos a a-creditar
; alheios aos genes, aos anjos, ao carimbo das Plêiades, à fotossíntese, ao livre arbítrio.
E aprendemos, noutros imóveis, a rezar à medicina imperfeita, não raras vezes,
a [crédito].
Por vezes, porque se paga a pronto, alguns vão às cartas, em vez de irem às putas, mas o Tarot (com todo o respeito) nem sempre nos alcança ou nós a ele…
Mas, que Buda é um jacto de endorfinas, é.
***
suzana guimaraens
*
Antes de me afastar demasiado de mim
Apurei-nos, em toda a geistória, este momento
: as pétalas sacrificiais de Santa Teresinha, a água com sal para os pés.
Incensários volatilizam o verso sesquipedal
Em heréticas viagens iconoclastas e cristalinos vómitos de alma&lama.
As fontes? A autobiografia de setenta e dois anjos, nove livros perdidos da Lemuria e da
Atlântida, cem queimados da Alexandria e da Inquisição,
Dez que ainda não se escreveram, doze que jamais saberei.
Heterodoxas paráfrases de amor e medo, parábases hardcorïf
Amalgamadas locuções desensarilhantes, metáforas metabolizantes
Atónitas tautologias ab aeternum, catóptricas sub-atómicas fórmulas de porvir
(de quem vive no meio sem estar em pré-determinada direcção)
Fátima desvendada intra-molecularmente e o diabo uma fada inter-galáctica
Premissas pseudo-parabolóides, diasporizantes, emigrantes de mim
Metamorfoses sonambúlicas, teorias do caos e súbitas cosmogonias
Subtis pitadas da minha própria cinza
- da mão, do abraço, do UM BIG O
; porque já soube a minha idade; porque sinto a dor, mas não a sou
;porque estou e não estou
Serôdias análises combinatórias: AAM MAA AMA MMA…
Uploads via oral, turbinas de deslembranças, ternas voragens.
E a haver culpa deste apetite, é da policromia dos meus irmãos de [ser]
Das tascas e dos restaurantes fusion gourmet onde me levam
- juntos somos “a escada em espiral que se afunda e se eleva”
A confluência de [três rios], incertos mundos paralelos
A faculdade de descrever o oximoro, todas as Faculdades
Nascentes de promessas que curam e que matam.
Nós e o Silêncio
Inervados no circuito micromacrocósmico, incubadoras de nada e tudo
Transportamos a babel heptagonal na metodologia do Infinito.
Os pés que continuem imersos. Talvez estejamos na iminência de algo:
***
suzana guimaraens
*
Resolvo parar num sítio não muito alto
para descansar as asas
e observar tudo mais de perto.
Agora estou aqui,
parada;
agora aqui, voando [voando o aqui comigo].
- Hoje é assim: ligeiramente diferente dos dias em que me veste um Bando.
***
suzana guimaraens
*****************
De pé, ofegante, apareci à ponta do passadiço, perpendicular à praia.
Entranhei-me, paulatinamente, no areal até às espumas e às estrelas espremidas,
sem luar à vista.
Em flash, evoquei como em criança (e ainda adolescente),
durante a viagem da manhã de autocarro para a escola,
me apetecia abraçar toda a paisagem que os olhos conseguissem alcançar
e tinha vergonha que me lessem os sentimentos naquele mirar aéreo e excessivo.
Lá, no passadiço, não foi a minha pequenez,
face à (in)finidade daquele oceano e firmamento,
que me resgatou
: foram as respirações completas [simultâneas] com tudo o que ali respirava.
Imissa e simbiótica respirava.
Reergui-me
– Órgão da Paz –
perplexa, diáfana, incomensurável,
muito além das traves de madeira que pareciam suster-me os pés.
E devo ter sido feliz, porque não tenho memória de SER tão inteiramente livre,
livre até de mim,
sobretudo quando, subitamente, compreendi que aquele
Silêncio
de brisa em brandas ondas nocturnas e aromas a flora de dunas primaveris
era, afinal, tão importante e pleno de budeidade
como o trash-metal, a bombar toda a tarde, do meu vizinho do 1º andar.
***
suzana guimaraens
*******************
Simon est mort
Simon está muerto
Simon is dead
e não terá sido inédito: leucemia rimou com pneumonia
enquanto ele ia; todavia, não devia, que bem o sabia
porque a saudade da companhia certa faz, por vezes, tocar à campainha errada
e parecem meras letras escritas em cima da cabeça,
porém é essa a ilusão
e os corrompidos até poderão esfregar as mãos pelo seu pretenso silêncio
e o cabelo dela ainda ondular no ar depois desse gesto hierático
– como um berilo –
e até o teclado apoderar-se do pó e da cinza,
mas é a saga da ilusão
porque os corrompidos não entenderam que o seu rouge é de longa duração
(como as pilhas de alguns gatos)
assim como não compreenderam que
a liberdade foi a prenda que ele se ofereceu neste Natal
e a ela
uma liberdade por embrulhar
por ser [demasiado exacta]
daquelas que aliciam a continuar jornadas
na sua pretensa ausência
para que ela acreditasse na presença deles
e na nossa
bem como nestas palavras
: que ele sempre soube que ninguém precisava de ninguém para se proteger,
mas havia palavras por dizer que foram ditas
– como águas-marinhas –
palavras que fizeram vidas
e mais palavras que atestaram outras
que irão continuar
e agora
Simão morreu,
mas não é a morte:
“é a vida!”
e a vida não é [Coisa] para se chorar
***
Suzana Guimaraens
Porto
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