a noite cai em riste
sobre o corpo suspenso
do palhaço - ancorado,
preso por um fio
à luz morna que lhe projecta
na madeira a sombra frágil.
Os seus olhos fechados,
onde viveu já o rumo
alado do trapezista
antes de ver o mundo
do ponto de vista da queda,
abrigam agora o riso
emprestado à burlesca
tragédia de se estar vivo.
***
renata correia botelho
*
foi talvez a nossa última canção.
oiço ainda os corpos a vincar a noite,
um campo minado de corações tristes
explodindo o rosto na parede.
muitas músicas depois
quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela: ficara-me sempre, afinal,
um terrível verso solitário
e a culpa de a ter levado
a um coração onde as canções
morreriam de frio.
***
renata correia botelho
*
encosto a face à parede
mais triste do quarto, fiel
guardiã do sol posto.
o coração que me deixaste
é uma casa difícil de habitar.
***
renata correia botelho
(s. miguel - açores, 1977)
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