Que súbita alegria me tortura
alegria tão bela e estranha
tão inquieta
tão densa de pressentimentos?
Que vento nos meus nervos
que temporal lá fora
que alegria tão pura, quase medo ao silêncio?
Pára a chuva nas árvores
pára a chuva nos gestos,
interiores contornos
divisíveis distâncias
ultrapassáveis gritos
que alegria no inverno,
que montanha esperada ou inesperado canto?
***
maria alberta menéres
*
Onde andará o meu Amigo só
que pedra em flor pisando
no caminho?
Gótica a agulha do silêncio ao alto
longe quem passa perto não a vê
eu perto a vejo de tão longe
quando
Qnde andará o meu amigo só
trepando às fontes derrubando
cantos?
Como quem tece um vento de memória
e dele se despede ou só da teia
não sobrevivo à minha vida
quando
***
Maria Alberta Menéres
*********************************
Por que não cai a noite, de uma vez?
— Custa viver assim aos encontrões!
Já sei de cor os passos que me cercam,
o silêncio que pede pelas ruas,
e o desenho de todos os portões.
Por que não cai a noite, de uma vez?
— Irritam-me estas horas penduradas
como frutos maduros que não tombam.
(E dentro em mim, ninguém vem desfazer
o novelo das tardes enroladas.)
***
Maria Alberta Menéres
Eu conheço dois meninos
que em tudo são diferentes
Se um diz: «Dói-me o nariz!»,
o outro diz: «Ai, meus dentes!»
Se um quer brincar em casa,
o outro foge para o monte;
e se este a casa regressa,
já o outro foi para a fonte.
É difícil conviver con tanta contradição,
Quando um diz:«Oh, que calor!»
«Que frio!» - diz o irmão.
Mas quando a noitinha chega
com suas doces passadas,
pedem à mãe que lhes conte
histórias de Bruxas e Fadas.
E quando o sono esvoaça
por sobre o dia acabado,
dizem «Boa noite, mãe!»
e adormecem lado a a lado.
***
Maria Alberta Menéres (1930)
Vila Nova de Gaia - Portugal
O bicho-de-conta
Faz de conta, faz
Que é cabeça tonta
Mas lá bem no fundo
Não é mau rapaz.
Se a gente lhe toca,
Logo se disfarça:
Veste-se de bola.
Por mais que se faça
Não se desenrola.
Lá dentro escondendo
Patinhas e rosto
É todo um segredo:
Se eu fosse menino
Comigo brincava
Sem medo sem medo.
Conversas com Versos
Maria Alberta Menéres (1930)
Vila Nova de Gaia - Portugal
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas