Ao fazer a mala, reparou que pouco
levava daquela lúgubre cidade.
Alguns vestidos, as primeiras frésias,
que tivera de presente, agora murchas,
uma dezena de exemplares de Moody
que lhe serviram para amortalhar o resto.
Se é que alguma coisa restava, pensou
junto ao aparador, enquanto no espelho
se perdia o fogo ruivo dos cabelos,
sublinhado pelo negrume do olhar.
Ao ajoelhar-se sobre a mala, escreveu,
em vez do seu nome, «Goodbye to love».
Era esta também a sua única morada,
até que a morte ou a chuva a apagassem.
***
manuel de freitas
*
Trazemos no fundo do casaco
algumas canções usadas
- e achamos, por vezes, que
é para nós que as estrelas brilham,
entre prédios demolidos e amores também.
Acabamos, mais cedo ou mais tarde,
por acreditar no silêncio.
A felicidade, para outros, continua válida.
Mas disso, obviamente, nada podemosaber.
***
manuel de freitas
*
É o nome que me ocorre,
sempre que regresso
e vejo de novo crescerem
as ondas do mar, em Gaia.
Há barcos que gostamos de perder,
que partem devagar para outras mortes
e nos deixam juntos, sem palavras.
***
manuel de freitas
(vale de santarém, 1972)
*************************
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas