«Soube encontrar no areão a flor em transe.»
e apontaste o ventre aberto da ondina:
carnagem crua te enquadrava, laminosa,
a face fria com a nuvem de falenas,
um relâmpago no estômago, e essa ombreira
pálida à mercê da lamparina; ovíparos
recados sob estacas, e tripas, e folhas
e escamas também. Engastado à tua voz,
«Toca-me os olhos com as pontas, sem a sombra
que de repente se enrolou entre os meus passos.
Vê, sob os círculos do peito, o peixe negro:
morde, puxa, rasga a pele do braço avesso»
E há tempo à justa pra empalhar outra corola,
o laço escuro a ecoar a trovoada
***
luís manuel gaspar
*
Alguma vez se atravessou no varadouro
um pulso em terracota, dedos incriados
na armação de arame por um fio, entre mãos
afeitas ao graniza? Tenham dó. Os sinos
só ressoam no estúdio sitiado e não
há lume aceso pra quem quisesse voltar.
Magnólias sempre alumiadas no tinteiro?
Reconheces um barco, tecido nas cordas?
Maçãs de grés assim assinalado e podre
entre a poalha das avencas e os olhos
«de avelã», com os velos à volta do berço
Ao romper d'alva ides colher o vento para
o incêndio do dia: bate certa, inútil,
a asa do anjo alvejado por engano
***
luís manuel gaspar
lisboa, 1960
*
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