Ali ninguém me espera. Nem eu disse
que queria ficar.
Um jantar solitário, a chuva a doer nos vidros,
um quarto simples e preparado à pressa.
Na manhã seguinte o ar era limpo como as palavras num bom poema
e as ruas e as casas, despidas de retórica,
desenhavam-nos o dia, simplesmente.
Sinto-me tão melhor nos lugares
que não fingem estimar-nos,
que não nos impõem memórias nem partilhas,
que se deixam simplesmente ser
e nos permitem não pertencer!
(Porque escrevemos sempre contra alguma coisa,
mesmo quando falamos de felicidade?)
***
luís filipe castro mendes
*
Era o último amor. A casa fria,
os pés molhados no escuro chão.
Era o último amor e não sabia
esconder o rosto em tanta solidão.
Era o último amor. Quem advinha
o sabor pela escuridão?
Quem oferece frutos nessa neve?
Quem rasga com ternura o que foi verão?
Era o último amor, o mais perfeito
fulgor do que viveu sem as palavras.
Era o último amor, perfil desfeito
entre lumes e vozes passadas.
Era o último amor e não sabia
que os pés à terra nua oferecia.
***
Luís Filipe Castro Mendes (1950)
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