HABITACIÓN DE HOTEL, 1931
(Edward Hopper)
Si hubiera una promesa
entre tú y yo, una cita
prorrogada, una luz allá a lo lejos
con que poder guiarme;
si quedase esperanza
- aunque fuese una triste
diminuta esperanza -;
si alguna vez tus labios
hubiesen pronunciado
la palabra mortal que yo anhelaba,
o algo que me sonara parecido,
pienso que aún hallaría
razón para aguardarte.
¿Y quién sabe si el trueque de la carne
no fue, de alguna forma, una promesa?
***
josefa parra
*
Del libro Alcoba del água
*
QUARTO DE HOTEL, 1931
(Edward Hopper)
Sei houvesse uma promessa
entre ti e eu, um encontro
adiado, uma luz lá ao longe
que pudesse guiar-me;
se restasse esperança
- ainda que fosse uma triste
diminuta esperança -;
se algum dia teus lábios
tivessem pronunciado
a palavra mortal por que eu ansiava,
ou algo que me soasse parecido,
penso que ainda encontraria
razão para esperar por ti.
E quem sabe se a permuta da carne
não foi, de alguma forma, uma promessa?
*
[trad: cas]
Recordar o escribir para vivir de nuevo;
para, como un imán, atraer al presente
las horas calcinadas por un fuego extinguido.
Dibujo o alineo las imágenes, digo
los nombres que avivaron la hoguera, recupero
la fragancia malévola de algún abril dormido.
Pero confieso, en fin, que nunca alcanzo el sueño
que me propongo. Es bello repetir la existencia,
pero lo que yo quiero,
lo que en verdad persigo cada vez que argumento
estas palabras falsas y brillantes y crueles
es vivir sin memoria, por ejemplo, la noche
única en Wadi Rum, descalza de experiencia.
Ver por primera vez mis pies sobre la arena,
el cielo punteado como un cedazo oscuro.
Hundirme en el dolor de aquel descubrimiento.
No volver al pasado, sino empezar de nuevo.
***
josefa parra
jerez de la frontera (cádiz), 1965
***
EXERCÍCIO DE DERROTA
Recordar ou escrever para viver de novo;
Para, como um imã, atrair ao presente
As horas calcinadas por um fogo extinto.
Desenho ou alinho as imagens, digo
Os nomes que avivaram a fogueira, recupero
A fragância malévola de algum Abril adormecido.
Mas confesso, enfim, que nunca alcanço o sonho
A que me proponho. É belo repetir a existência,
Mas o que eu quero,
O que em verdade persigo cada vez que argumento
Estas palavras falsas e brilhantes e cruéis
É viver sem memória, por exemplo, a noite
Única em Wadi Rum, descalça de experiência.
Ver pela primeira vez meus pés sobre a areia,
O céu ponteado como uma peneira escura.
Afundar-me na dor daquela descoberta.
Não voltar ao passado, mas começar de novo
*
[trad: cas]
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas