Amo-te
com as raízes de uma canção negreira
na madrugada dos meus olhos pardos.
E derrotas de fome
nas minhas mãos de bronze
florescem languidamente na velha
e nervosa cadência marinheira
do cais donde os meus avós negros
embarcam para hemidférios de escravidão.
Mas se as madrugadas
das minhas órbitas violentadas
despertam as raízes do tempo antigo...
mulher de olhos fadados de amor verde-claro
ventre sedoso de veludo
lábios de mampsincha madura
e soluções de espasmo latejando no quarto
enche de beijos as sirenas do meu sangue
que meninos das mesmas raízes
e das mesmas dolorosas madrugadas
esperam a sua vez.
***
josé craveirinha
maputo, 1922
*********************
A noite estava escura
escura e fechada até à beira do mar
escura e fechada estava a noite.
E os langues
olhos dos dois encontraram
no céu o Cruzeiro do Sul XI-Ronga
e uma poalha de estrelas cobriu confidências
mundos de silêncio
o litúrgico frenesi dos dedos
e o desejo ardente de não ser
mais do que um.
A noite estava escura
E fechada à beira do mar.
Mas o beijo
Dos dois no tempo esquecido
Transformo a noite.
in Obra Poética
***
José Craveirinha (1922-2002)
Moçambique
O preconceito da ave
não é o tamanho das suas asas
nem o ramo onde poisou
Mas a beleza do seu canto
a largueza do seu voo...
e o tiro que a matou.
in Obra Poética I
Caminho 1999
***
José Craveirinha (1922 - 2003)
Lourenço Marques - Moçambique
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