Poética de um Rosto?
Que a neofiguração se torne ní-
tida. Do objecto sedutor. Incrus-
tado nas vozes. Quanto resul-
taria, iluminado pelo silêncio.
O painel de onde se despren-
de a linha. Um modelo clássico
que revele. As palavras eter-
nas da fábula de Hero.
Proximidade incompreensível
como a de alguns poemas. Sen-
timentos que são indecifráveis.
Uma dedução para o fim. Tal-
vez o amor jubiloso dentro
da quarta parte da pupi-
la do olhar divisível pela
cruz axial. Encontrado na pai-
sagística do rosto. Expecta-
tiva de um sentido propício. A
revelação verso por verso.
***
fiama hasse pais brandão
*
O efeito desprende-se da causa
tal como a faca se solta
da pura coisa
que não recortou na matéria.
E as cinzas de meu pai que estão
ocultas na urna separam-se
do meu berço
***
fiama hasse pais brandão
*
Aprendendo a mímica do lince podes
amar a morte. Uma aprendizagem exa
cta. Seguir o contorno pardo, pontiagudo,
das pequenas orelhas. Desenhar o sombre
ado dos olhos finos. Na morte há
um perfil especial. Fulgurações que des
lizam no ritmo dos passos. Um andar
alongado de colina para colina. Não
temas o fim como os outros seres
vivos que amam a própria morte.
A sua silhueta articula-se com um o
bjecto artificial. Recorda os ângu
los com maior espessura do que
numa superfície de mármore. Mostra
o acetinado do pêlo em chispas.
Um espelho para reproduzir as
mutações da vida. Aprender um desenho
mais profundo do que o do prateado
do vulto. O que nos fulmina é
belo como a última queda depois
de um salto livre entre as montanhas.
***
fiama hasse pais brandão
(lisboa, 1938)
************************
Ontem pôs-se o Sol, e a Lua
girou no seu oco céu.
Nunca tão breve noite, dia
vieram para mim.
Hoje pôs-se a Lua, e o Sol
logo caiu no ocaso.
Ainda mais rápidos os astros
vieram para mim.
Como serão noites, dias
do tempo de amanhã?
Um único momento imenso,
o meu futuro?
***
Fiamma Hasse Pais Brandão
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Aqueles de um país costeiro, há séculos,
contêm no tórax a grandeza
sonora das marés vivas.
Em simples forma de barco,
as palmas das mãos. Os cabelos são banais
como algas finas. O mar
está em suas vidas de tal modo
que os embebe dos vapores do sal.
Não é fácil amá-los
de um amor igual à
benignidade do mar.
*
Fiamma Hasse Pais Brandão (1938)
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