O corpo sobe e desce
embalado de encontro
à gelatina (gordura)
do líquido até se dissolver
na onda de partículas
- a cintilação sem brilho
(glauca) de fluxos invisíveis -
de onde reemerge
como um novo tronco -
as guelras no lugar
das pernas - para
repetir outro ciclo.
Quem o segura?
Tudo se arrasta
no aquário alagado
em que o olhar se adensa,
inclinado para dentro,
deixando-se cobrir
pelo lençol de pregas
- silvos embutidos -
do vídeo movediço.
Tudo mexe em câmara
lenta vídeo distorcido
no viveiro de formas
(carnívoro adormecido)
de onde as imagens
se desprendem
(da agonia do fundo)
ainda irresolvidas.
Mal sai da cápsula
a placa de vidro -
com os seus parafusos
de metal fundido -
agride-o na cabeça,
no ponto em que
o pensamento bate
no fundo e se
extingue o sentido.
Atravessado pela janela
que o lamina pelo cinto
cai para baixo e cima
sem que os dois cotos,
girando sobre si,
cheguem a ocupar
o espaço de ravinas
deixado livre
pelo pesadelo
entre o sólido e o líquido.
Só então a imagem,
quando volta à superfície,
reconhece como sua
a promessa de novos sons -
seres de língua bífida -
que já nada prende
aos limites do conhecido.
***
fernando guerreiro
*
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