«Esperas que te digam que ainda não morreste».
Esto verso naufragou faz tempo no meio de um poema
mau e vejo agora que mereceria melhor sorte.
Retiro-o cuidadosamnete das ruínas
como quem retira do meio dos destroços
um corpo dado à costa numa praia deserta.
Deixo-o ao relento o tempo necessário
para que o sol lhe entre nos pulmões
e lhe beba a água em excesso. Se respirar
uma vez mais, quiçá para seu mal,
ensaiará o passo seguinte, integrando
ossadas de um novo cemitério.
***
fernando de castro branco
duas igrejas, 1959
*
Lázaro Inocêncio do Nascimento,
manobrador de gruas na auto-estrada
transmontana sai do túnel do Marão
para a negra luz do desemprego
e das carências em família. Manobrou
com perícia a cegonha de ferro no céu
da montanha, dialogou com Deus
e com os pássaros sociáveis; olhou
para o fundo de si e concluiu que na terra
ou nas nuvens a vida é sempre abismo
onde a altura é uma questão menor. Hoje
desceu de vez as escalas íngremes,
findou a concessão do troço e do capital,
agora está entregue a si que o mesmo é dizer
ao destino de ninguém. Lázaro
Nascimento diz que com esta descida
à terra morreu um pouco, e assim à terra
descerá definitivamente em tempo certo
sem estranheza de maior . Não carece
pois o Mestre o ressuscitar por mais
que alastre o pranto das irmãs
e os direitos da quadra. Na ferrugem
definitiva dos materiais o sinal perene
de que não vale a pena o esforço
de retirar os panos uma e outra vez.
***
fernando de castro branco
duas igrejas (miranda do douro), 1959
*
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