as crianças anãs da noite impuras
ardem como alma das deusas. das grandes vidas.
o ano é frio e a morte a duração.
cercam os cálices para parir um coração e um candelabro.
apressar estandartes nas rosas
para ensanguentar a cabeça e escavar uma manhã.
há peles tão nocturnas como baloiços.
e há túmulos tão lentos como se fossem.
como se os lenços sossegassem e a venosa caravana intacta
metamorfoseariam os faróis em assassinos de pérolas
as elegantes mandíbulas que o coração é de poro a poro
de ceptro a ceptro
e as vogais é sangrar tanto que se regressa.
o tubo de um órgão atravessa-o uma falcoaria
e o unânime negro lodo em júbilo.
***
cristina nery
*
na fronteira de um corvo
inventam-se as luzes esverdeadas
de um mostruário e
o incêndio
é o seu semi-círculo avançado
no grifo.na cornucópia solar.na bifidez
ensopada da claridade inumerável.
***
*
As mãos são erguidas da espuma
dos bebedouros estancados
que revelam a morte como um ventre.
o lugar mais formoso da terra são as omoplatas dos animais gigantes
e as manjedouras.
queria um diário rente às amígdalas para luzir as espirais estancadas nos pés
que incham pelos reinos arredondados e azuis
onde a morte de uma flor é uma aparição.
.a largura inteira de um planeta.
a noite como um conto espásmico entre a carne
ou um meridiano secreto com leões de coração a meio
e uma vagarosa mulher branca
de seda e aloés.
morre-se de estrelas maduras
arqueando num fogo de prata das planícies
e apenas num dia
equilibra-se o umbigo tão no sangue
como se um ceptro de alta voltagem
na metade luminosa de Deus.
de beleza os incêndios nas ilhas em dias lunares
e as sementes de mel oficinais às ancas
e há uma feiticeira assobiada pelas fogueiras
nas fronteiras onde os pastores perpetuamente.
uma linha verbal irrespirável como calcário das artérias obsessivas.
e o mundo tem uma arte húmida e espaçosa como uma cobra.
***
cristina néry
*
que até é difícil
o sol de fogo contorcido
ao redor do cone
ousaria ao tecto da videira
que os triângulos são rectos
se
ao mergulhar
amadurece a cor da cicuta
recordo o grito dos pavões
com a cauda de passos largos
e a zimbro decoro
o espírito eriçado do gelo
que há a mascarada planetária
e de epitáfios arranco
a algazarra do conforto do sol
que é tardio quando nos tapetes se misturam as laranjas
e se retiram as profecias dos galhos
de um bosque com uma estrada molhada.
sei que há um prato de bálsamo junto
às praias abandonadas de ameixas
e os pés manifestam ter uma companhia celestial
e um círculo de ruidosas colinas
que ao orvalho são fortuitas
e de esporas.
e de fêmeas.
e de pulseiras alagadas.
e de palcos
depois
do soalho dos nenúfares
tinha de ser imaginado junto
ao vermelho em que morremos sempre
acontecer
é
quando os modos da relva têm um domínio preto
reclinado nas histórias dos jarros
e um hino que assina um olho aos vinte e três ângulos
da anca da mais leve coroa
entre o ouvido e o aceso redondo da corda de metal
e a queda dos muros dos ecos.
***
*
às vezes há focinhos que me preparam a noite
e não sei se continuarei viva.
às vezes a casa tem tantos cantos
que a minha silhueta é salgada
e tenho navios na ponta dos dedos.
o travo que me acaricia tem um infinito
e as minhas pálpebras são as conchas da harmonia do meu corpo
sempre que as encontro.
um tornado traz as sementes das borboletas que duram pouco
entre as vértebras entre o pólen da terra, pernoito
a rodear os nervos do meu peito crucificada
e se eu conseguisse esboçar o vento
seria de precipícios diariamente
e do mortal brilho do meio-dia.
queria destruir um texto com flechas acesas completamente nas mãos
e morrer assim de Verão
em azulejos brancos numa gruta
e o meu cérebro a pique
rotativo e poderoso
como a energia da lua
e agarrar pérolas no coração.
há um sítio astrológico
de cavernas corais
e cristais extensos
que sai do corpo. os mortos levam-me neles
porque tenho arrozais de flores brancas
que me cercam a respiração.
os lençóis onde irei cair são molhados a prata
e a candeias dos palácios.
***
cristina nery
(viseu, 1978)
**********************
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas