Encosta a tua orelha no meu turbante.
É azul. A pele não, está no escuro.
Nos teus dedos aqueces misturas, não compostos.
Suspensa num deslaçar da tempestade próxima,
vou escusando o céu sob o qual habitas.
Está vermelho, empoeirado,
ameaçando de morte o mestre das areias secas.
O xeque mate satisfeito.
O sabor da fruta na boca, não se torna amargo,
evidente etapa, olhar metido na boca, devorado, monstro
corando. A pele muda de cor, deixando de ser
secreta, vulnerável.
Guardo-me sabendo que sentes essa marimba
ecoando, ressoando ternura.
Agora eu sei!Sei como amas a minha aventura sacudida, forma
de me eclodir em atmosfera desejo.
É tanto tanto...
Tanto me entrego num pranto em riso
como numa cantiga em me crer corpo pequeno.
Queria ser raiva e coragem, cigana livre
sem correntes, como as tuas, para a salva no deserto.
Sofres por isso, sem aferro, ou
com este destemperado.
***
cristina benedita
*
ch...
chiu
cheira a ch...
cheiro café Ah! cheira a
ssssuor sabor
cheira a sssabão
ch... Torrar Torrões Torrada Terra
vermelha e cor de café
Cheira a goivos, a café com leite, a manhã cedo, a laranjas no ar,
ch...
heira a menina avó nova velha mão coração
Cheira a pão e a sss sangue novo
óleo, montanha, vale
levantar e cair.
Transborda
longe e perto
Cheira a m mm mmmulher
Cheira a m mm mmmulher
ss__ sede
sss__ segredo
sss__ sopro
ssss__ sexo
sssss__ silêncio
ssssss_ só
sssssss_ sussurro
essência baloiço num embalo
um céu cheio de aromas
ch... chiu ch...
sss__ som
sss__ soa
Arfando num bafo quente
esta cidade está cheia de cheiros!
***
cristina benedita
algés, 1966
*********************
normas de conduta desespero e falas de bem querer
malmequeres enviados em dias de festa
numa esperança de concretização de poder
o alarme é lançado pelo ar fora
de boca em boca chegado aos ouvidos
tão cheios de arquejo e asas de palmas
dadas por um público imenso
continuam os ritmos de tambor
nos rituais tão sagrados na religião pagã
formas de festejar pelos montes
com a alma alegre e cheia de verdejantes prados
às nuvens eclipsam por vezes o sol
a lua não alcançará tanto o seu objectivo
comparada com estes pássaros que retornam à terra
***
Cristina Benedita
Algés - 1966
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