sussurrei palavras nos ouvidos do vento
para ecoarem nas velas dos barcos perdidos
diziam que engolir lâminas vermelhas não interfere na cor
e
ainda hoje
permanecem à deriva
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bruno miguel resende
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sussurrei palavras nos ouvidos do vento
para ecoarem nas velas dos barcos perdidos
diziam que engolir lâminas vermelhas não interfere na cor
e
ainda hoje
permanecem à deriva
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bruno miguel resende
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"Quero ao meu cavaleiro apertar aos alvos seios, o corpo dou-lho inteiro, cavagalrá as minhas ancas."
cantiga, béatrix de viennois
Merdilheiras são tecidos farpados que revestem as exterioridades das madrigueiras fornecendo-lhes as óbvias áreas rupestres de ocorrências multiplicadas de batalhas de rabos de raposas.
No decorrer das melífluas ingestões rutilantes do vinho as percepções reticulares incandescem felinamente afiadas até à ponta dos bigodes, a indolência embala-se por motricidade emotiva escrevinhada pelas salivas tingidas de uva. O vapor horizontaliza-se por fumeiros regougados. Já as trinchas entrincheiradas entram em autocombustão fazendo rir os farrapos do vinho.
Da zona exterior uma panóplia de campos de concentração sem centralidade, sem concêntricos.
Todavia as vagas de manchas cinzentas eram invisíveis ao toque, mas escorriam-se em catadupa pelas vitrinas farpadas. Sem contaminar, mas com existência persistiam no silêncio que se desfaz à crepitação de pedaços de arfagem. Os excrementos das labaredas ejaculam-se pelas chaminés do catarro libertário metamorfoseando-se na massa cinzenta da descerebrização ambulante que se trincha, que se penetra à trincheira da inocorrência, e assim ocorrem como se fossem. Merdilham.
E vomitam pelos olhos como túmulos negros que falecem todos os dias ao tempo certo de outro relojoeiro que tudo tem excepto a pilha.
E empilham-se como corpos cénicos de uma guerra que explode dentro de cada transmissão de ordenamento de território sináptico. O terrortório. Lambem os parapeitos suicidados. E sem quebrar.
Mas na representação madrigueiral as molduras reinventam os moldes. São despimentos de uma pulsão que impulsiona por não se sair. Por não se romper. Por não se aspirar à chaminé. Por desejar o facto de facto.
E entre a enclausura forçada pela força de desejos cantados à garrafa meia-vazia a aspersão meia-cheia de gorgolejos próprios de quem está a arder. A simetria verde deriva a simetria azul e o cinzento colapsa por não ter desfarpado tecidos. Que caem. Entre salivas temperadas à rutilância vínica.
As faúlhas atestam a potência da madrigueira. Ascendem segundo o princípio irredutível da gravidade invertida. É a agudeza do gemido timbrado à extasiação pelo suave adorno do corpo moldável a si mesmo. Dizem-se as flores rubras de excrescência incendiária. Até as pálpebras decidirem o rumo final das epistemologias beijadas.
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bruno miguel resende
*
na consciência alterada me lancei
visões de divindades em osculações
intensidades e desejosas tentações
hegemonias puras das duas feminilidades
negros e vermelhos cabelos entrançados
lábios doces de corpos ensarilhados
no ritual de desejos se incandesceu a libido
fulgurante prazer da minha tentação
na feminina união
incessante emancipação
catapultante sensação
nos seus âmagos de desejos me vi
revi
senti
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bruno miguel resende
porto, 1981
*
gravito uniões à chama claustrofóbica
gradeada desintegração por pulso impulsivo
ventanias opiáceas rarefazem visionárias
trémulas à tepidez
faísca insónia às invisibilidades do cárcere
ente impotente desvanecente de silêncio
estrelas com vultos avultam-se
ganchos naufragam à aridez
por sonâmbula hemorragia
implodido tempo à farpa coloidal
e
confundo lâminas às mangas
gorgolejo por sombras liquefeitas
luminescem vermelhos
inominável penetrado às raízes
adorno por caótica progenitura
porque as lanças lampejam
dóceis formas de morrer
em consequência de infinitude
gravei êxtases em chuviscos
porque se nada no esgoto
e
a delinquência enraivece
laminei horizontais nas nádegas
farpados astros rasgados de céu
adorno ao negro veludo
rasguei estrelas cadentes
e
escorri seivas aos cometas
rendilhada epiderme
massajada pela lápide
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bruno resende
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Rastreio a noite diurna do pensamento,
penumbra angelical toldada em ondas coloridas,
avalanche intemporal de formas indefinidas,
adocicadas sonoramente e pelo opiáceo temperamento,
caminhada aérea pelas montanhas infindáveis,
planagem pelas ondas das sensações imensuráveis.
Se sei onde estou,
não sei por onde vou.
Enalteço a efemeridade do voo rasante,
fugaz hegemonia que se deleita como orgasmo,
plenitude esplendorosa em que me apraz o teu espasmo,
brisa marítima afagante do momento extenuante,
esbelta e singela emancipação momentânea,
incessante catadupa de imensa emoção instantânea.
Se não sei o que fazer,
farei o que acontecer.
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BM Resende
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