sob os leitos do rio me dou
noite equestre, selvagem
a tatuagem golpeia
esta arena de saibro
relógio de esperanto e bruta
derramo sobre o tojo
a sede e o veneno
lavar-me-ei mais tarde
o meu corpo etiquetado
aproxima-se de outro em monte
aguarda, o costume.
qual o lado da verdade quando se alapa
e trunca sobre o poder sua farpa de origem:
ou morres ou és sacana, estás comigo ou és contra mim?
***
aurelino costa
*
se me amas
dependura o umbigo na saia
lúcifer reluz de tanta beleza
maculada em teus seios de virgem
feroz e atenta
segura-me na mão e beija-me o tornozelo
num acepipe amargo, tanto cheiro a lava
ou esconde-me o peito num calcetar de godo
na nite de montemor
incendiada de mosto
bosta e feno
ouço
o teu olhar
num re_dor
o murmúrio canta_bílis.
***
aurelino costa
*
as tardes de domingo, começam
sair de casa, como se fora para longe...
e voltar a ela, sem vontade de fazer nasa.
tenho o domingo no corpo
minha mãe prepara a feijoada com solas para o almoço
meu pai dorme na tarde para a semana inteira
e ressona alto
as vacas e seu cheiro entranham-se-me
minha mãe tira leite, mais cedo que o habitual
e adormeço num silêncio quente
gosto de não existir neste tempo
meu pai, abeira-se da minha mãe. todos quietos.
eu não entendo nada.
talvez, por isso, pereça
a poesia.
***
aurelino costa
*
Viu passamear todas as procissões
devotado companhante, sábio
de honesto festim mediu a vida
sem código ou pasta
livre
enterrou quase um século de estória
Porque mangas ocultas vestiu fraque
na morte?
Bolino, fausto e inseguro
em sua camisa de popelina
com sapato e tudo ...
em ata pompa
ei-lo
...almente a prumo
ao lado!
***
aurelino costa
*
mar ingente os hipermercados
bocas de fome as embalagens
as luzes que tremem são teus olhos
incapazes de (a)pagar a electricidade
o design do nada nas palmas o silêncio
que fazem no verde código verde?
oficiar avés na ladainha dos preços?
passam de carro as caras aquecidas
não tens lugar para o chôro, resta-te o frio.
dos cartões ninguém se descarta:
contaste 12 visas e masters na carteira
que encontraste sem código.
alguns vizinhos teus do sub
murcham a óptica em direcção à esperança
Tu desligas as tuas luzes.
Talvez não acordes.
***
aurelino costa
*
as tardes de domingo, começam assim
sair de casa, como se fora para longe…
e voltar a ela, sem vontade de fazer nada.
Tenho o domingo no corpo
minha mãe prepara a feijoada com solas para o almoço
meu pai dorme na tarde para a semana inteira.
e ressona alto.
as vacas e seu cheiro entranham-se-me.
minha mãe tira leite, mais cedo que o habitual
e adormeço num silêncio quente
gosto de não existir neste tempo.
Meu pai, abeira-se de minha mãe. Todos quietos.
eu não entendo nada.
Talvez, por isso, pereça a poesia.
***
aurelino costa
*
Sem ti tudo é mais tranquilo e doce.
asperge o sovaco um perfume raro
e teu pescoço de sardão másculo
derrete-se de tanto linguado
subtraído e alheado o testículo anelar
sob e desce consoante a súbita garganta
o pássaro que tem na bota
molha a casta santidade eréctil a passagem
de uma malha sacrílega à ceia
enquanto o apostolado em orgia branqueia o vinho
os congregados adormecem num eterno repouso.
***
aurelino costa
*
O triste pode ser azul na guarita dos olhos
ou mais tenso na cisterna do olhar
consoante a tua disposição assim o sol
te olha...
a mão e o fósforo
ardem só de imaginar
é uma gaita o que nos prende?
um assobio? iu, iu?
assim um bidé estala
à colocação da nádega do teu olhar!
vira-te
por de trás do que pensas
ainda não está o teu pensar
um peixe circunda o aquário enquanto teus olhos parados
imaginam cataclismos na fedúcia da pupila
o vento largo esconde mapas
e os braços entristecem de tanto bater claras d'ovos
***
aurelino costa
*
Rio a braços com o mole dos feitos ácidos,
em moça debica um chaço
o que após gorjeia...
diz, entra
a garganta é tua
lesto vibra.
o fígado,
recheio pimba do belo
aqui, bala a seco
rastejante aponta
o eterno.
***
aurelino costa
argivai, 1956
*******************
Teu corpo
-ócio de alga e sal
na vastidão do azul
permanece
E o tacto do sol
Na vulva da ilha
Bebe-se
***
Aurelino Costa
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