La ville résidait dans nos yeux
possédait chacun d'entre nous
nous n'y trouvions pas à redire
nous la logions elle nous hantait
le sommeil restait à sa porte
et ses lumières faisaient briller
ce que les autres prenaient souvent
pour une passion ou de la fièvre
nous l'abritions sous nos paupières
émus fanfarons et contents
et pour tout dire nous nous flattions
qu'elle nous habite pour pas un rond
et quand nous reprenions la route
transis fourbus mais pleins de force
c'est là dehors précisément
qu'elle s'acquittait de son loyer.
***
anna de sandre
*
A cidade residia nos nossos olhos
possuía cada um de nós
não lhe encontrávamos defeitos
nós habitávamo-la ela nos perseguia
o sono descansava à sua porta
e suas luzes faziam brilhar
o que os outros frequentemente tomavam
por uma paixão ou uma febre
nós abrigávamo-la sob nossas pálpebras
comovidos fanfarrões e contentes
e francamente nos orgulhávamos
de que nos habitasse por uma rodada
e quando retomávamos a estrada
transidos exaustos mas cheios de força
era lá fora precisamente
que ela cumpria o seu aluguer.
*
[trad: cas]
Au lendemain
de la tue-cochon
nous rentrons à la nuit
tu conduis distraitement
tes mains
dont le toucher inattentif
n'agace plus
mes seins
sont posées sur le volant
inutiles et machinales
et pourtant
les pulsations la joie
brutale
et l'affolement
prennent mon corps quelquefois
comme à l'instant
où je tourne la tête
secouée d'une joie muette
devant une pelletée de roses
suspendues
à une ornière
tu me dis : « à quoi tu penses »
et je ne peux pas
te répondre qu'avant de
te fermer les yeux
je verrai encore dedans
l'ennui sertir
les rayons noirs de leur iris
ce même ennui qui
flottera
avec les pans de ta chemise
lorsque tu écraseras
soudain
la pédale d'accélérateur
jusqu'à la chute dans la rivière
dont seule
je sortirai indemne
pour t'enterrer à même la rive.
***
anna de sandre
*
Rutura da tração
No dia seguinte
à matança do porco
regressamos à noite
tu conduzes distraidamente
as tuas mãos
cujo toque distraído
já não excita
os meus seios
estão pousadas sobre o volante
inúteis e maquinais
e no entanto
as pulsações a alegria
brutal
e a loucura
tomam o meu corpo algumas vezes
como no instante
em que giro a cabeça
sacudida por uma alegria muda
diante duma ramada de rosas
suspensas
sobre um caminho
dizes-me tu: «em que pensas»
e eu não posso
te responder que antes de
te fechar os olhos
verei ainda no interior
o aborrecimento engastar
os raios negros das suas iris
esse mesmo aborrecimento que
flutuará
com as abas da tua camisa
logo que esmagues
de repente
o pedal do acelerador
até à queda no rio
de onde sozinha
sairei incólume
para te enterrar na mesma margem
*
[trad: cas]
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas