Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen.
Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo.
Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.
A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.
***
ana marques gastão
*
Branco pranto em uma folha de papiro. As palavras deste texto
são abandono, reflexo antigo, regresso em excesso a um tempo
solar; modificam um rumo, o nosso, contraditório, irreal, não
permitem a fala, o vocábulo abissal, agitam-se, sobem, riem,
extenuam-se, inauditas, revoltam-se, possuem, pálidas, um resto
de luz; são caligrafia deformada, sonoridade anterior, restauro,
esboço. bosque. As palavras deste texto são a outra que me vê
em branco pranto numa folha de papiro onde me firo afinal.
***
ana marques gastão
(lisboa, 1962)
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Quando pela noite chegas dissolvem-se as trevas
e eu partir não quero, porque esta é a noite
que ilumina o dia, canto do silêncio, eco subtil
no discurso do mundo. Quando pela noite chegas
é meu o teu amor, e a morte tarda doce como o mel.
***
Ana Marques Gastão
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Se queres ouvir
a mãe
em tua memória
arcaica
deixa as palavras verem.
Aceita o colo
vivo
a álgida solidão
e ultrapassa o poema.
***
Ana Marques Gastão (1962)
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