Curiosa esta mulher na janela, curioso
o ademane de alisar-se o cabelo, que
repreensão é aquela
de olhar as laranjeiras como sem interesse, como
desatendendo à tristeza certa da tarde? Não sei;
não sei o que estou fazendo assim: a escova de dentes na
mão direita; desarrumado
tudo: o pensamento. a montagem
corpórea. A voz, desarrumada. Em que
estarei pensando? Nela? Em seu
jeito cansado de tirar
o colar? Ou melhor, nada
disso; e então uns trens
velocíssimos, linhas do céu
abertas, a imensidão
se volta para nós. A
culpa é da escova, a culpa
é dessas laranjeiras pelo definitivo, pelo
extraviado e mínimo do ar. A
culpa é das duas costas.
***
Aníbal Cristobo (1971)
Buenos Aires - Argentina
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