Desde as fartas ribeiras do Mondego,
desde a Fonte das Lágrimas,
que na bela Coimbra,
as rosas de cem folhas embalsamam,
do Minho atravessando as águas mansas
em misteriosas asas,
de Inês de Castro, a dona mais garrida,
e a mais doce e mais triste enamorada,
do grão Camões que imortal a fez
cantando as suas desgraças,
de quando em quando a acarinhar-nos vêm
eu não sei que saudades e lembranças.
Lá deu seu fruto a planta abençoada
com sem igual pujança.
Daqui o germen saiu, sabe-o Lantanho
e a sua torre dos tempos afrontada.
Talvez por isso - ó desditosos - sempre
convosco foi o germen da desgraça:
Tu, pobre dona Inês, mártir do amor
e tu Camões da inveja empeçonhada.
Pesam dos génios na existência dura
Tanto a fama e as glórias quanto as lágrimas.
A que cantaste em peregrinos versos,
morreu baixo o poder de mãos tiranas.
Tu acabaste olvidado e na miséria
e hoje es glória da altiva Lusitânia,
ó poeta imortal, em cujas veias
nobre sangue galego fermentava!
Esta lembrança doce,
envolta numa lágrima,
manda-te desde a terra
onde os teus foram nados
uma alma dos teus versos namorada
Antologia Poética.
Colecção Poesia e Verdade,
1885, Guimarães Editores, pág 11-12
Rosalía de Castro (1837 - 1885)
Santiago de Compostela
Espanha
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas