Se deita a cabeça fora na estrada
e vê se fi ca matéria por regurgitar,
verá se o deus está por baixo do mar
ainda disposto a expirar compracido,
quando as bocas da vaidade desta civilização
terminem de expelir o ciúme dos seus vómitos,
proferindo toda a bile e mesmo o próprio estómago.
seguram nas maos os olhos dos seus rostos extraidos,
uns olhos de neve e pregos sobre os dedos da lapidação
que ergueram a fronteira entre os corpos condenados
e fazem jurar bandeira como anjos aguerridos
–na língua que inocula com veleno a dissidência–,
aos amantes que bifurcam a sua vereda.
na margem direita de quem mira para o norte
a condenada recolhe os olhos e os pregos da tortura,
e sobre o muro contentor refulge a balaustrada da gorgona.
na margem esquerda de quem mira para o norte
um barco desamarra carregando a sua latitude
e nom sabe mais das outras margens.
as poças acumuláram verdeamarelas secreções
que cobrem os corpos nus pisados
pelos transeúntes que cospem sempre no chao.
o sangue coalhou guardado na gaveta
e dele nasceram vermes branquinhos e cavalos alados.
no mar, ainda, o deus que hiberna
será um dia compracido quando o gume cortar
a fúria na corda que afoga os cavalos brancos,
libertos da ira que detém as marés.
e este gigante erguerá sobre o oceano um látego,
sacudirá nas bestas de sal o brutal galope,
e correrão em árdua viagem na conquista da areia
a todas as praias do mundo,
à praia de normeraltha
***
laura branco
foz (lugo), 1984
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