O amor comeu minha paz e minha guerra.
Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão.
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça,
meu medo da morte.
(João Cabral de Melo Neto)
Vestiram-se para a foto. Ele, distinto em um paletó preto gravata borboleta lenço na lapela e os óculos, aros fininhos. Didi em um vestido com botõezinhos e plissê, brincos em forma de coração vermelho com pedrinhas ao redor um trancelim de ouro com medalhinha e cabelos curtos muito curtos, repartidos à la garçonne. Olham para o infinito.
Um dia ele morreu.
Didi vestiu-o pela derradeira vez igual à foto, cobriu o caixão com cravos brancos depois vestiu-se de preto.
Quis enlouquecer mas na semana seguinte ele voltou, contou tudo.
Não se habituara muito com aquela vida de morte.
— Que brincadeira é essa?
E estava ele de volta. Viviam assim em núpcias.
Às vezes ele não vinha. Ela caía numa tristeza de dar dó. Dia seguinte ele surgia novamente em frente ao portão, corado e bem disposto. Didi perdeu a conta de quantas vezes ele morreu de quantas viveu talvez a vida toda.
O tempo passou. Chegou o dia em que ela Didi, também resolveu que ia morrer. Elegante, despediu-se de todos, deitou no caixão.
Estava linda vestido branco, pulseira dourada e um véu bordado com minúsculas borboletas rosadas cobrindo o corpo antigo.
As matas se incendiaram fogo fátuo.
As folhas do caderno de anotações voaram atravessadas pelo calor do vento volando as cortinas de seda.
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jussara salazar
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