À memória de Ramona Pardo, da Casa de Casumira
Em algum momento me foram distribuídos os sentidos
para ver eu a manhã que esfria
e come a pintura verde da tua janela
que agora só dá para o nada.
Estava sentada na estação da pobreza
e de repente pensei em ti
a mulher que levo por fora
suporta a duras penas a fera da introspecção
porque passo diante do teu casebre em ruínas
e parece
que ainda espero que a memória extinta duma aldeã
que usou o teu nome
para passar tanta fome
assome a essa janela verde
e me acene com a mão para confirmar que existo.
Velhinha que te vais
tens o dom da extinção
e a chave para decifrar
o alicate que retorce o céu como um ferro
e o faz chover até chorar isso
que faz de nós
uma estrutura acabada
de portas para dentro.
Vais
pelo avesso da miséria
sem roupa nenhuma
falando com doçura a um pote cheio de carvão
e a sombra vai-se-te pelos caminhos
falando sozinha
quanto tens que dizer
***
olga novo
*
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