1
o poema desce.
nas coxas da mulher que recém amou, o poema desce
com um terror diabólico.
os vergões em sua pele, branco em branco: as marcas da gadanha que o ferreiro
lapidou por anos nas cavernas,
no silêncio de seus corpos
cavernosos.
porque toda palavra começa pelo sêmen:
o poema desce
como se quisesse psicografar
sua própria origem.
2
os pés da mulher que recém amou se afundam no exercício
de putrefação do poema.
em busca do tacho.
o poema desce como se fosse enterrado
pela boca de quem o escreve,
e como se essa boca fosse uma espécie de fogo.
as palavras, seus séculos
de cozimento.
3
depois o curso das amamentações ocupa esta ideia.
a luz batendo em cheio nas tetas,
vocábulos: variações
da luz.
a lactose deflagra seus aneurismas, pesa.
e o poeta já não sabe
abrir a boca.
***
marceli andresa becker
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