Necessitaria que o corpo me seguisse
e vivesse três vezes sendo eu mesma
Que amasse com ardor as coisas que adoro:
o pó sobre um velho móvel
as tuas olheiras
de rerum natura de Aristóteles
a espiga que entrega a vida nas mãos do meu pai como no Gólgota as tuas olheiras
o pelo negro e liso do espírito da cadela Perla
a tua mão no meu ventre
a comunicação com o mais além deste poema a matéria
o último olhar de um ruivo
a massa do pão quando leveda e neva
sobre a densidade e a forma das tuas memórias
um tango
um telescópio para olhar-me ao espelho
as amoras os ciganos as mãos da minha mãe a agulha da modista
um velho combatente doente que perdeu a guerra pensando que a ganhara
aquele que se espanta de ver o amanhecer
e é tocado pela sua guitarra como por um anjo
uma mulher que caminha em direcção a si mesma
e me leva pela mão
ao seu próprio destino
uma goma de três pesetas
o estômago duma vaca e a reverberação do trevo
o cérebro do meu irmão
que brilha como uma flor entre os números
o úmero do poeta amado
o meu sangue vivo o meu canibalismo
a gota que encheu o meu copo
e tu
contando pelos dedos
a minha vida três vezes
três
a minha vida.
***
olga novo
*
[virado por BlogNi]
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas