A fonte de toda a respiração escura
a última terminação nervosa
electriza este dom insolente
da escrita
estás
aí?
Deixo-me atrás
e na fuga
o estrume abandona o seu cheiro
nas vielas da história
andamos todos espavoridos
procurando
para comer
o coração eterno
do antropólogo.
Que se apiede de ti a sombra
que o tumulto da ruína não te desvele o sentido
e o ácido que expulsa a descalcificação da aldeia
não alcance os teus poros por deus a tua porta
a dor bombeada a partir do pulmão da maçã.
Sou
agora
o que sempre sonhei:
um trapo negro
posto a secar
no silvado de entreosventos.
Todo aquele que me vê
vê o espectro duma fruta em trânsito
entre o sistema da flor e o da mulher madura.
Escolhi
o caminho instintivo da semente
o tímpano negríssimo do corvo
a tua depredação
E assim
Avanço neste futuro
rumo ao primeiro organismo que me viu
e chorou com a emoção
de um artrópode pequeno e solitário.
Um cão acaba o dia o seu último osso o cúbito da meia-noite
e eu
que não sou nada
sobrevivo apenas
à custa
dos teus braços.
E assim compreendo
a mistura de sangue e de ar
que me faz funcionar como a perfeita estrutura da linfa:
o pulmão da maçã
a origem da vida.
***
olga novo
*
[trad: alberto augusto miranda]
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