Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens
dos anjos?
o dia clareado recorda-me que não dormi.
os ossos estagnam plúmbeos no interior do corpo cansado,
enquanto as pálpebras, presas por uma membrana de sangue seco,
simulam a obscuridade inexistente.
a Primavera surge abrupta como antecipação do Verão
e o Verão como corvo de densas asas, portador da morte.
resisto eficazmente à dor sempre que a urgência dos dias me anula o pensamento;
chego a esquecer os rostos lançados ao vazio – ou, pelo menos, a deixar de os sentir.
para lá da memória, o meu reflexo avança negro no espelho velho da sala de jantar.
o medo será sempre mais forte, as reacções tempestuosas,
elaboradas artimanhas que me permitam permanecer o mais absolutamente só.
sobre os lençóis mornos, a pele lívida expõe as veias carregadas de veneno.
nem os sonhos mais altos que me reservo resistem à fulgência das manhãs.
cubro-me de negro e preparo-me para a viagem:
reservo a existência a um lugar feito de nevoeiro.
***
marlene jabouille
*
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas