Ao tocar suavemente os lábios da noite intuí como ela dançava dentro de si.
As gotas de vinho sobre a mesa refletiam o milagre daqueles seios.
Ali dentro a música tremia com a paixão do vento pelas árvores mais altas.
Tudo nela era uma floração de mistérios.
Suas pernas alcançavam os melhores agudos.
A noite convulsa soletrava a voragem de suas ancas.
O ritmo sempre antecipado de cada vertigem.
Juro que pude ler a oração que rascunhava seus mamilos na pele interior do vestido,
como se fosse escrita em meu próprio peito.
A noite me beija como um espelho repleto de memória, sonho transbordando imagens,
seus lábios roçando a paisagem de corpos flutuantes entregues aos gemidos que
escorriam pela toalha mesa abaixo.
E ao beijar-me pude entender o quanto a vida suplica para estar ali em sua fonte, aos
pés do mito que alimenta com seu fogo líquido.
Não houve mais como regressar dos lábios dessa mulher.
***
floriano martins
fortaleza (brasil), 1957
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