o meu corpo parece um cão deitado.
às vezes penso que outro cão se aproxima de mim,
para me cheirar ou lamber,
mas nunca acontece.
às vezes são os homens que se aproximam.
são cinco e estão nus,
mas mal sentem o cheiro viram costas,
na pele, como se gravado a ferro em brasas,
um tem escrito o,
outro tem escrito meu,
outro tem escrito corpo,
outro tem escrito no,
outro tem escrito teu.
os cinco homens juntos formam
o meu corpo no teu.
mas de costas são apenas homens
sem qualquer serventia.
nem sequer me lambem como um cão vadio.
às vezes penso nas mulheres destes homens:
estão em casa, muito gordas, de avental,
com o jantar à espera.
penso no corpo delas, deformado,
a barriga acumulando-se sobre as coxas,
cheia de mamas.
os homens chegam a casa, sentam-se a comer,
passam da mesa para o corpo,
sentam-se a comer.
imagino o que as mulheres lhe dizem:
aqui tens o teu jantar,
ao mesmo tempo que colocam
o prato
e o corpo
sobre a mesa
***
alice macedo campos
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