Meu missal, em tão mau estado,
De liturgia profana,
De domingo celebrado
Como um dia de semana!
Será a missa cantada
que nos pode dar ideia
Da cidade transformada
Numa ruela de aldeia?
Empregado de balcão,
Em meus poemas confusos
Crescem flores de latão
De pregos e parafusos.
Choram noras? Vibram limas?
Dobram os sinos mais estranhos?
No rumor das tuas rimas
De chocalhos e rebanhos...
Mais a sombra das latadas,
A força das trepadeiras
E o prumo das calçadas
Na pólvora das caçadeiras...
Medas de feno e de palha
E quatro palmos de aveia,
Mais aquilo que nos malha
Nas ampulhetas de areia!
E as ruas da cidade
Num rigor tão pombalino
Gemendo obscuridade
Do campo com sol a pino...
Gafanhotos, escaravelhos
E Lua branca de dia
(A leitura de Evangelhos
Dos ateus em romaria!)
Perder-me nas tuas ruas
De canastras e varinas,
De prédios e de charruas,
Buíças com carabinas...
Só sentir à minha volta
A vida à tua maneira.
Um muro de pedra solta
Num tapume de madeira!
***
henrique segurado
lisboa, 1930
*
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas