lembro-me de uma noite, ao sair da garagem,
o teu carro ter já deixado a rua, e da rua ser, à
luz moída dos postes públicos, uma largura infinita
de paralelos, e dos meus pés estarem paralisados, e
da paragem cardíaca do teu nome na minha boca, na
viagem mais longa que fiz à solidão.
hoje, recebi a tua carta, estava no tapete da entrada,
húmida, ligeiramente suja com cinza de cigarro, e pensei
nas tuas mãos, no gesto de enrolar tabaco, na tua língua,
no gesto de o lamber, e no quanto terás fumado cada
palavra. assim que entrei, sentei-me a ler, só depois
desfiz a mala. devo dizer-te que é muito triste
uma mulher sentada a ler com a roupa por lavar,
sobretudo antes de tomar banho, e que, por isso,
liguei a máquina naquele programa que dura
exactamente o tempo de um duche, estendi
a roupa, e ainda não sequei o cabelo.
***
alice macedo campos
*
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas