continuei a regressar ao lugar onde me habituei a grotar lobo até muito depois
de teres deixado de ir em meu auxílio. o inverno foi rigoroso, as espécies do
medo extintas com cobertores e alguma companhia - com uma presença
recuada, sobreviveu apenas essa falta de jeito adolescente que aprendemos a
dissimular por motivos profissionais. antigos uniformes militares desenhados
com cores primárias, listas com números de telefone, mapas, tudo o que a
memória imediata atirou um dia para o interior de pequenas caixas, à espera de
catalogação, descrição, esquecimento. esta noite venho dizer-te que encontrei o
santo e a senha escritos no verso de um bilhete de autocarro, mas não a tua
morada. já ninguém vive nas mesmas ruas passados tantos anos e a luz amarela
e suja de uma lâmpada nua balança sobre um jogo de cartas deixado a meio.
nessa época, só nos rendíamos a quem não nos queria vencer. sei que haveria
uma lição a retirar de tudo isto, mas prefiro acusar-te de falta de resistência
num jogo que um de nós poderia ter ganho, mas ambos perdemos.
***
tiago araújo
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