ainda o lacre cor de sangue de bovino; a henna nas unhas das mulheres (um cão)
a rua sunmersa pela noite do Rif traz sempre o teu cheiro (arromba portas)
levanta as folhas do chão e planta árvores ao longo do meu caminho de regresso
("nunca se contam histórias sem mentir um pouco"); já de costas voltadas
a tua voz regressa de todas as partes do céu: maquilhada de simpatia e pudor
uma vermelha torrente de silêncios - as bancas expondo cabeças de carneiros
(e seus corações)
a espera pela muito demorado correio enviado por mim para este lugar
como a pele da cabra abandonada no chão (acabada de abater)
e odores de almíscar (a Teogonia pousada e a mostarda a colar-se-me aos olhos)
as mãos demasiado bem tratadas ante meus calcanhares fendidos
ali vendedores de uma felicidade sempiterna no coração e no retiro das virilhas;
circulam desde a memória da tua imagem: lambretas de escape solto - o atropelamento
abro os olhos e a gasolina incendeia-se por todo o meu corpo e pela traqueia abaixo
enquanto te vejo chegar nua pintada de um azul majorelle entre a cintura e o umbigo
tudo sob uma água de anel e índigo (que te levarei por prenda no meu silêncio)
a caixa de rapé - escolhida entre as demais por seus signos berberes
irá também empacotada; no malão, a demasiada roupa (que regressará limpa)
uma melopeia à beira dos caminhos (não te encontrei em curva alguma;
nem na esquina da Rue des Souks) porque chove na praça - agora vazia
na charuteira de cabedal as minhas canetas, os lápis e um termómetro sem préstimo
O Rio do Céu a prometer para a tarde de amanhã O Caminho de Santiago - um cão
o verde inteiro da margem a derreter-se dos teus olhos para os espaços fechados;
agradeço a Deus por mais este dia: não te vi no teu lugar (de cinzas) sexta-feira
um cão morto na berma da estrada: escarlate e azul nas esvaziadas miudezas
("nota que os trazem limpos os calcanhares são os que mais rezam")
o quarto vazio onde ainda assim nos descalçávamos - o teu pescoço arranhado;
oxalá irei (só eu) pelo deserto pisando as areias que (ainda) te arrepiam os pés;
uma oração por cabeça: já o cão ao ombro do pastor num alforge da cor dos teus olhos
***
alexandre sarrazola
coimbra, 1970
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