(Em homenagem a Bulgária, essa bela pátria e as suas gentes)
Escuto-as de certo, na hora zero, vão chorar todas juntas a falta da sua
primavera.
Eu simplesmente escuto e são outro silencio no lenço que elas guardam,
atrás do punho dorido, onde as veias irrigam o sangue que sempre é minguante.
Falsos são seus sonhos, falsos foram seus homens,
mas elas ainda conseguiram tirar os seus filhos para alem do ódio;
excetuando aquele que nasceram irredimíveis.
Às vezes algum morre rebentado no chão, e vermes são as pernas comidas pela
insônia,
às vezes um outro chega a governar acima dum pequeno divã, o globo da terra.
E então terríveis avernos acendem um conselho,
e noites inteiras acumulam um desejo
que a falta de pai trasbordou em miséria.
Suas arcas vivem cheias de penas com cisnes.
Os ocos aflitos, almofadas de lagrimas vencidas,
e feios talentos, são como uma rua num beco sem limite;
matam pelo prazer de matar, ou morrem estúpidos por causa de arrebatar-lhes
às mães seus belos altares:
um prato de azeite, um pano rendilhado.
Escuto-as no preto que vestem suas saias,
nos lutos adentro que adornam gastadas, as toucas engravidas.
Me olham bem sei, e seguem pelo largo.
Também pensam elas serei eu soldado
e morrerei tal vez
na mesma guerra, aonde seus filhos emigraram
em procura do beco vazio, onde elas foram abandonadas.
***
artur alonso novelhe
méxico D. F., 1964
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