Não se me dava que daqui a bocado,
pela manhã, me telefonasses e,
ignorando-me a voz de sonho errado,
dissesses devagar "gosto de ti"
E me acordasse o toque de telefone:
relâmpago de som, eléctrico, ou
eu, como orfeu, ouvindo o gramofone
que eurídice, a velhaca, lhe deixou
Muito mais bom que orfeu seria a tua
voz a romãs (ou figos, ou amoras),
daqui a unha ínfima de lua,
ou seja, mais ou menos quatro horas
É que não se me dava, let alone
ter que estender a minha mão e com
ela pegar em ti ao telefone
e ouvir "gosto de ti", era bem bom
Ma esse sonho fica-se no meu
desejo a nada, e nem o telefone
me soa a teu futuro. Vem, Orfeu,
trá-la de volta...
Ou traz o gramofone -
***
Ana Luísa Amaral (1956)
Lisboa (Portugal)
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