Já tens o cigarro preso nos lábios, buscas
o pau de fósforo que acenda e justifique
Nesse preciso instante a garantia
do teu futuro ou a salvação da tua
alma não são, se é que alguma vez
foram, o problema crucial da tua vida
sequer uma questão prioritária, o magno
problema é o fósforo, mas onde pus eu
a caixa?, e quando por fim a encontras
se a encontras, extrais dela o almejado
couto de madeira, esfregas não tarda
a cabeça vermelha na lixa da caixa,
aproximas a chama do cigarro, sorves
com avidez e deleite - e essa coisa frágil
absurda, milagrosa, que uma vida
sempre é - e por que raio havia a tua
de ser diferente? - está nesse preciso
momento plenamente justificada.
***
rui caeiro
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