poderia
pensar na sua estirpe
procurar a linhagem das palavras
arrancando-as pela raíz
e resgatando-as do limbo
de serem palavras sem tema
poderia
senti-las crescer
nos seus braços incontidos
através do corpo de qualquer folha
ou ramo da imaginação
poderia
escrever o poema com sangue
no desejo voraz de obstar
os pudores poéticos que calcinam o verbo
observando-o vogar
sem letras castradas
nem métricas induzidas
poderia
dizer que o poema
movimenta palavras como manchas vivas
não se embarga em metáforas
nem se rende aos vocábulos remidos
a ferro e fogo
da qualquer íntima consciência
( livre, habitável, transitável
e aberto ao sexo das palavras opostas )
poderia
ressalvar que o poema
não se escraviza na génese da reflexão
nem no arquétipo obsoleto do tempo
que tictateia nos relógios da humanidade
ou…salientar que o poema
pedra verbal que desconstroi o altar do próprio verbo
não nos escolhe ao dizer-se
ao escrever-se ao ouvir-se
nós, servis ao poema
é que nos moldamos ao seu corpo
poderia
deixar de pensar
para que não me restassem dúvidas sobre o poema
***
ana almeida santos
porto, 1968
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