Eu respondo à ventania
fico imóvel
rasguem-se ao ar violento
os que nem memória têm.
Não há-de vir à tona, o corpo.
Assim tal qual
desfez-se no susto lento
ao correr das águas
há-de ser agora irreconhecível.
Há quem já não se lembre
o corpo à tona já nem memória tem.
Assustam-se os que
à vez presentes
no reconhecimento
sim, de outro corpo
além do seu,
não destrinçam
da lembrança o pensamento
só do pensamento
a sua repetição.
Assustam-se e disparam a matar.
Eu, a galope
respondo ao tiroteio
fico imóvel.
Penso nisso
mergulho nisso.
E o corpo, sim
à tona
e a galope.
Circunstâncias extraordinárias
requerem respostas extraordinárias
respondo ao tiroteio
fico imóvel.
***
sérgio godinho
porto, 1945
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