Ter-te-ei no pensamento por muitos anos,
ó corpo que eu igualei à flor da esteva,
bravia mas crescente, flor fecunda
quando o silêncio reverdece.
Não me peçam palavras de palavras
ou corpo rarefeito, som estéril.
Fiz um contrato com o vento oeste;
o meu espanto provi-o de asas suficientes.
Vou contigo no absurdo de existires,
mas sei que vou, hasteando a minha culpa
de não ser bem digno dos olhos
que se habituaram à companhia dos outros.
Detesto o isolamento como princípio,
porque vivo em comunidade.
Quando me bloquearem os olhos,
começa por favor a tecer uma estrela.
Gosto das noites quentes da minha terra,
quando os lavradores sonham coisas impossíveis.
Gosto de ti, porque me enraiveces
e fazes clamar, embora no deserto.
Fiz um contrato com o vento oeste.
Empresta-me o teu olhar de flor bravia.
Alguma coisa hei-de ter de novo,
quando o silêncio reverdece.
***
antónio cabral
castedo do douro, 1931 - 2007
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