Domingo, 31 de Março de 2013
A casa onde às vezes regresso é tão distante

 

A casa onde às vezes regresso é tão distante

da que deixei pela manhã

no mundo

a água tomou o lugar de tudo

reúno baldes, estes vasos guardados

mas chove sem parar há muitos anos

 

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai

uma viagem se deu

entre as mãos e o furor

uma viagem se deu: a noite abate-se fechada

sobre o corpo

 

Tivesse ainda tempo e entregava-te

o coração

 

***

 

josé tolentino mendonça

 

*


lido em: http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/jose_tolentino_mendonca/poe

publicado por carlossilva às 08:59
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Sábado, 30 de Março de 2013
no princípio, somos esta luz queimada de água a água

 

no princípio, somos esta luz queimada de água a água,
o fogo ininterrupto que se alastra na comunhão das margens,
a maré vazia, a mágoa calcinada, a imagem breve da castidade,
trabalhada pela pluma do céu com seu botão de rosa sobre o mar.
no princípio , estamos sóbrios, ignoramos o abismo caminhamos nus,
e se uma música nos toca, encostamos toda a nossa vida um ao outro,
e a luz faz, no chão onde dançamos, as efémeras sombras de uma chama,
que, de hoje para sempre, arderá no mundo à nossa passagem. e temos à
nossa espera, no fim de tudo isto, o medo com os nossos olhos na cara, e,
entre eles, a mesma água que queimou este poema, mas abaixo os braços leves,
convidativos, apetece cair nestes braços e concluir, num só corpo o verbo amar.

 

***

 

alice macedo campos

 

*


lido em: http://texturadasletras.blogspot.pt/2012/01/alice-macedo-cam

publicado por carlossilva às 11:56
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Sexta-feira, 29 de Março de 2013
quando ressus - citas o poeta morto


 cotovelos sobre cacos de vidro retém as palavras enquanto o sangue foge, desenho as letras do seu nome dentro do coração transformado em origami de caveira. sim, a lucidez é tão impossível quanto o silêncio e paixão sem êxtase ou morte é como estar entre os vivos num enterro: a neutralidade - existe quando ressus-citas o poeta morto para assassinar o que em ti nasce sem permissão

 

***

 

camila vardarac

 

*


lido em: http://revistapausa.blogspot.pt/2011/03/poesia-contemporanea

publicado por carlossilva às 13:35
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Quinta-feira, 28 de Março de 2013
por água abaixo [poesia incidental]


ainda estou aqui sem saber começar
porque não me acostumei com as metades
nem com os inteiros


quando me dou conta estou perto do fim
ou depois do meio [no meio de mim]
onde todos os caminhos se extinguem
e as pedras servem melhor aos estilingues


haja pulmão para tanto oxigênio
e hidrogênio quando falta o ar
na tentativa de vir à tona na hora errada


o sol a pino, o pino da granada,
a pressão, a queda
a verdade liquidada


[onde há campos minados
e nenhum verso seguro
ou se ouvem as explosões
ou apenas os soluços]

 

***


adriana coelho

 

rio de janeiro

 

*


lido em: http://metamorfraseando.blogspot.com/

publicado por carlossilva às 08:41
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Quarta-feira, 27 de Março de 2013
nostalgia - do solícito - lyrosophie - códices do aéreo

 

 

como fixar os mapas - do inabalável -  na iminência do mar - de sargaços -  escutar  - seu corpo - inábil - do ar - da água - o incomensurável -

sob o inerme - a pronunciação que não cessa - a paráfrase infinita - voz do intérmino - nostalgia - do solícito -

 

lyrosophie -  injunção- (sobre)posição - da palavra - ténue saciedade  - da pedra irremovível  - a areia e o mar - códices do aéreo -  

 

***

 

alexandre teixeira mendes

 

*


lido em: http://douradaatempera.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 08:44
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Terça-feira, 26 de Março de 2013
todo o rosto um anagrama

 

Cresce, sem paralaxe, o Autor de rua, Autor de montão, uma técnica de criar país fora dos espetos, a boca filiada num cigarro previamente fumado pelo asfalto dos vermes. Voga pluvial o sonho neste dossel de lençol permeável, funéreo design_io inscrito por dentes emprestados para fonificar o empréstimo: a língua. Pouco o Autor fala, transita em exagero a brutal e pletórica contenção. Uma manta suja de retórica em função, a escarradela como o mais sábio petroglifo destes corpos que esperam o autocarro para os subúrbios de Vénus.

 

Ao largo do indoor, outro monturo se prepara nos milímetros à volta: a sucção em general das imagens. Uma violenta cruz nocturna, talhada no silêncio conforme, propaga a muralha diante da freguesia. Os numerosos Autores comem rostos. Com eles são deitados e administrados, o corpo fora da vigília. Pagam em força, fealdade e inexistência, mesmo quando a voltagem dos neuro-receptores lhes instiga clarões de santelmo, episódios de marra, marrativas.


O alto vigia dentro como o arcaico omni, agora sem reivindicação, cada consumidor do divino leva o remorso no zigoto. Saem roncos de expedições às barragens. Um elevador de carmim equilibra o movimento rodando, como se fôra diverso, os cardápios das sensações de comércio, de deitar fora. Os transportes, em teleologia ou noética, estão protegidos pela loucura, pelas Pistas. Têm Patente.

 

Todos sangram, todos urgem. No assisdente, estilhaça-se o envase. A extensão do fragor inicia a Arca d'Alva, nova rataria se apressa a imprimir bilhetes para as viagens Ao Mesmo. como se a ignição do repetido, da droga funcionária, fosse a Doroteia do Júlio Dinis, uma retro mediocritas marketada em aurea, o Re-nascimento, essa utopia que sustenta a prisão.

 

***

 

alberto augusto miranda

 

*


lido em: http://nervoeiro.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 17:01
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Segunda-feira, 25 de Março de 2013
na fraga vella


A néboa esváese
e os homiños azuis fanse nidios.

                         Pasa a luz entre as follas,
e como inocentes cabalos
estiran os colos.

                         Beben
todo o azul das charcas,
cristal misterioso,
vasta extensión inabarcable
do corazón.

 

***

 

anxo pastor


*


lido em: http://adamar.org/ivepoca/node/943

publicado por carlossilva às 08:03
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Domingo, 24 de Março de 2013
licion // lição


nas tardes lhargas
pulas nuites fondas
ne ls delores sien fin
la semiente inda speras

pa tan caros dies

mal apenas ganhas
i siempre de la candeia
na mano l pubitador

um metro que scabas

la polha que nace
ou rachon a arder

daprendiste a poupar

la chama de ls dies
buolto a tou eissencial

 

***

fracisco niebro

 

*

nas tardes longas
pelas noites fundas
nas dores sem fim
a semente ainda esperas

para tão caros dias

quase não ganhas
e sempre da candeia
na mão o espevitador

um metro que escavas

o rebento que brota
ou o racho a arder

aprendeste a poupar

a chama dos dias
devolvido ao teu essencial


lido em: http://lhengua.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 08:10
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Sábado, 23 de Março de 2013
máquinas malogradíssimas



Uma máquina de fazer sumo da Terra e não haver sumo na Terra,
senão suor proveniente da máquina e do seu esforço incómodo,
humilhante e repetido para o conseguir.
Uma máquina de barbear mentiras, mas sem lâminas capazes de
cortar rente os pêlos encravados das mentiras. A face mentirosa
cheia de pistas de sangue e pequenas insurreições, mas a barba
intacta, como se as mentiras fossem parasitas de ferro e amassem
os pêlos em toda a sua extensão e península.
Uma máquina de costurar segredos. Segredos desfeitos. Impossíveis
de coser. Nem com a linha mais inventiva. A paciência mais pálida e
solene. A precisão de deus quando opera a sua autonomia relativa. E
os segredos degradados, como doentes parkinsónicos, perdidos de
riso, fazendo tremer o repouso onde a inutilidade de tudo exerce a
sua vocação vazia.
Uma máquina de fazer máquinas de fazer cócegas a tudo isto.


***

André Domingues

 

*


lido em: http://alpendredalua.blogspot.pt/2010/11/um-poema-ao-acaso-m

publicado por carlossilva às 16:25
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Sexta-feira, 22 de Março de 2013
dom da extinção

 

 

 

À memória de Ramona Pardo, da Casa de Casumira

 

Em algum momento me foram distribuídos os sentidos

para ver eu a manhã que esfria

e come a pintura verde da tua janela

que agora só dá para o nada.

 

Estava sentada na estação da pobreza

e de repente pensei em ti

a mulher que levo por fora

suporta a duras penas a fera da introspecção

 

porque passo diante do teu casebre em ruínas

e parece

que ainda espero que a memória extinta duma aldeã

que usou o teu nome

para passar tanta fome

assome a essa janela verde

e me acene com a mão para confirmar que existo.

 

Velhinha que te vais

tens o dom da extinção

e a chave para decifrar

o alicate que retorce o céu como um ferro

e o faz chover até chorar    isso

que faz de nós

uma estrutura acabada

de portas para dentro.

 

Vais

pelo avesso da miséria

sem roupa nenhuma

falando com doçura a um pote cheio de carvão

e a sombra vai-se-te pelos caminhos

falando sozinha

quanto tens que dizer

 

***

 

olga novo

 

*

 

[vertido por BlogNi]


lido em: Cráter
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publicado por carlossilva às 08:38
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