encho o faio gústame enchelo
de cousas inútiles tempos esquecidos,
todo o que quixen facer
botes baleiros fotos vellas
xornais antigos mapas xeográficos
por onde só pasei co dedo
non falo inglés non aforro
pois xa aforran os de sempre
son paciente sen causa algunha
acostúmome as adversidades
se hai desgrazas, son miñas
si son éxitos, son doutros
estou descontento
síntome espoliado por outros alleos
en realidade temeroso de min
agoro chego antes ao traballo
cobro menos estou hipotecado
padezo de ansiedade encho o faio.
***
enrique leirachá gutierrez
*
Aquela varina era gorda
E pesada
Não tinha a leveza do mar da madrugada
nem a frescura
do mar do meio-dia
ou a suavidade
do mar poente
mas tinha a magia
de quem traz
à cabeça
um mar ondulante
***
conceição paulino
*
Quais penas incandescentes desapareceram
das pequenas ossadas emparedadas,
neste corpo roído de suposta bem-aventurança.
Que impedimento me falseia o voar pelas planícies,
já sulcadas,
se tais penas se mortificarão com o meu pulsar.
***
virgílio liquito
*
Desabotoo o peito para a noite.
Abro a caixa dos segredos,
para me contar os contos de outrora,
retomo os caminhos que diziam no ar.
Doem na garganta os males velhos
de infância mal curada,
de espera fanada,
o medo da palavra atravancada.
Furou-se um pneu neste ciclo de som.
Avanço em linha opaca, com instintos
que tremem como a terra
neste tato.
Olho sem ver senda,
nem sonho de luz,
nem astro,
sempre adiante,
verbo em lábio,
na via Puro-eu a Nós-em-cor.
***
iolanda aldrei
*
Vuestro odio a los colores ha acabado con ella: vuestro odio a lo pagano y las cuchillas. Flamsteed alejándola de su dolor de estómago: es mi estructura, junto a ella moriré.
Tenéis cuanto queríais. Era Alicia: no el diamante. Ningún destrozo: sí dabais la espalda, mordíais muy profundo. Un mecanismo fácil. Una labor sencilla. Tragad. Despidiéndoos como si fuera la última cerveza junto a vuestros chicos preferidos. Las bombillas son frágiles: igual que sus hilos, terminó rota.
ojos de sapo, mi noche esférica, caries en el saludo, inevitable vomitar: cuanto queríais, en vuestras manos. Sois felices, lo conseguisteis.
Reencarnados en mujeres y en hombres, bailáis con vosotros mismos mientras se oxida vuestra lengua de oro falso:
por error, pisasteis charquitos de saliva venenosa, manchasteis la entrada al dormitorio.
Os empeñáis en un nombre del que ella carece, llamándola te quise siempre, estrecho tu mano, no conozco otro dolor que no haya sido nuestro.
Lo habéis conseguido. Acabasteis con ella. En vuestra mesilla de noche respira minúscula por no despertaros: menos aire, menos aire, pequeña, tonta.
¿Besaréis su cadáver?
***
elena medel
*
Tritanopia
Vosso ódio às cores acabou com ela: vosso ódio ao pagão e aos cutelos. Flamsteed afastando-a de sua dor de estômago: é a minha estrutura, junto a ela morrerei.
Tendes quanto queríeis. Era Alicia: não o diamante. Nenhum destroço: sim dáveis as costas, mordíeis muito fundo. Um mecanismo fácil. Um trabalho simples. Tragai. Despedindo-os como se fosse a última cerveja junto de vossos amigos preferidos. As lâmpadas são frágeis: tal como seus filamentos, acabou partida.
olhos de sapo, minha noite esférica, cáries na saudação, inevitável vomitar: quanto queríeis, em vossas mãos. Sois felizes, conseguistes.
Reencarnados em mulheres e homens, bailais convosco mesmos enquanto se oxida vossa língua de ouro falso:
por engano, pisastes pocinhas de saliva venenosa, manchastes a entrada do dormitório.
Empenhais-vos num nome de que ela carece, chamando-a te quis sempre, aperto tua mão, não conheço outra dor que não tenha sido nossa.
Conseguistes. Acabastes com ela. Na vossa mesinha de cabeceira respira minúscula para não vos despertar: menos ar, menos ar, pequena, tonta.
Beijareis seu cadáver?
[trad: cas]
Hay días en los que fui dura
como me correspondia
y él llorava esperándome
creyendo que todo había sido um mal sueño.
Otros fui piadosa,
regresé a su lado para que no sufriera,
y otros, al mismo tiempo,
regresé por miedo a no tenerle cerca
y perderlo para sempre sin lograr nada a canbio.
Siempre fui por dentro el dolor y las ânsias,
tuve el deseo de llenarme del todo
y se me vació el amor y el cariño y la lástima
y empapé el oceano.
Después de aquel verano
me alcé com el mando de la tribu
y fui rescatada para ejercer desde el silencio
la fuerza neesaria para que otros gritaran.
Le vi cambiar de nombre
y yo me liberé de los ancestros.
***
almudena vidorreta torres
*
Memória
Houve dias em que fui dura
como me correspondia
e ele chorava esperando-me
crendo que tudo tinha sido um pesadelo.
Outros fui piedosa,
regressei a seu lado para que não sofresse,
e outros, ao mesmo tempo,
regressei por medo de não o ter perto
e perde-lo para sempre sem conseguir nada em troca.
Sempre fui por dentro da dor e das ânsias,
tive o desejo de encher-me de tudo
e esvaziou-se-me o amor e o carinho e a pena
e encharquei o oceano.
Depois de aquele verão
Tomei o comando da tribo
fui resgatada para exercer a partir do silencio
a força necessária para que outros gritassem.
Vi-o mudar de nome
e libertei-me dos antepassados.
*
[trad: cas]
Eu busco pertencer
e tu procuras cadeias
pra romper em desafio
Eu procuro pátria
e tu procuras fugir dela
libertar teu sangue que ferve
Eu busco pertencer
e tu buscas motivo
para sonhar com a fugida
Eu busco pertencer
e desenho mapas circulares
com um coração alvo
e tu desenhas flechas
como raios que fogem
Eu busco pertencer
e tu escusa pra partida
***
concha rousia
*
De botar o mar polos ollos,
que ocorra nunha cidade
onde a orientación desapareza
e os xogos de nena non existan.
Onde as cores verdes estean preto
- uns metros é suficiente .
e as mans de millo apreten as ideas
(ou as tetas)
Onde ti sexas procura.
Onde ti (me) habites.
***
alicia fernandez rodriguez
*
entre as casas de chere hai un grandote olmo seco
tan vello como a aldea que cecais se foi morrendo
cando marcharon os ultimos
poboadores destes cerros
e co tempo a estas casas se lles caen as cobertas
e o olmo seco que perde as polasfinas e a casca
pero o peto carpinteiro
tamen gosta esta madeira
algunos olmos sempre tiña cada aldea deste val
e de lonxe xa descobren as xentes ao camiñar
polos olmos estes pobos
e xuntos gañando o ar
e ate chere que chegaron camiñantes e olladas
e o tronco deste olmo seco que se enche de palabras
dun poeta de outro tempo
que a lupe as veces graba
e as noites de lua chea neste tan revolto maio
a sombra deste olmo seco que cecais feriu un raio
vai provocando outros versos
duns alunnos de machado
***
manolo pipas
*
tatue um verso
dinodonte diminuto
em meu dorso
etéreo
reverso
tatue beijos
cabelos extensos
seu
rosto
tatue sentidos
discretos lábios
textos explícitos
arriscado fogo
astro
sem esforço tatue
um
imortal dionisíaco
tatue meu corpo
todo
poema inteiro
***
adriana zapparoli
*
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas