Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2013
sexo sen nova iorque

 

desprázome nas noites molladas que

tingues de verde

ao presionarme baixo teus dedos de

papel.

 

aniquilantes furados na parede,

testemuña silenciosa da niña continua

execución.

afogada en bágoas que se derraman cara

a dentro,

para non darche o pracer de verme

perecer baixo teu.

 

liñas infinitas de xemidos na

inmensidade dun universo

que me é alleo, sinto tremer a cama nos

teus pes.

 

cando pechas a porta, os agarismos

transfórmante nunha besta,

que amo, que temo, que me fai perderme

na lámpada que colga do teito.

o único lugar no que non me podes

atopar.

 

***

 

eva méndez doroxo

 

*


lido em: as setes idades

publicado por carlossilva às 12:58
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Quarta-feira, 9 de Janeiro de 2013
análise de sangue

 

Falta-me ferro. Sobra-me música e potássio.

 

Ninguém me entende visto-me com a saia da montanha

choro por qualquer coisa

espero uma carícia

como um milagre de pão de ouro e vitaminas.

 

Como carne de égua. Escuto passos nas minhas veias

e invade-me a alegria de um novo amor como um exército bárbaro.

 

Esta sou eu.

 

Metade árvore

metade escada de caracol

 

Metade tigela

metade beco duma vida à beira do Adriático

 

Metade abóbada metade sombra

metade contemplação metade auspício

 

Metade mofo metade pureza

 

Metade fonte metade varanda

metade horizonte metade estrutura mecânica

 

Metade flor de cerejeira

memória cortada pela metade

metade monte metade eu

metade madona metade neve.

 

A mim ninguém me entende.

Deixo tirar – me sangue e maçãs

minha tormenta

deixo que me auscultem vozes do outro mundo

dirijo a minha tensão como se fosse uma orquestra

tiram água de mim como de um poço cardíaco

às vezes

escuramente

inclusive sei o que digo.

 

Dizem que me falta ferro a mim

mas esta garganta minha

é um metal de transição entre a palavra e o peito.

 

E em contacto com a ternura posso adquirir um leve timbre oxidado.

 

No meu sonho ando pastando com as vacas no meio dum campo magnético.

Na minha vida real

sou a filha pequena dum pastor do fim do mundo.

Metade abóbada metade sombra

metade contemplação metade auspício

 

Metade mofo metade pureza

 

Metade fonte metade varanda

metade horizonte metade estrutura mecânica.

 

Metade flor de cerejeira

memória cortada pela metade

metade monte metade eu

metade madona metade neve.

 

Tiram-me sangue

Tiram-me

a mim

ninguém me entende.

 

***

 

olga novo

 

*

 

[virado do galego por BlogNi]


lido em: Cráter
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publicado por carlossilva às 00:01
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Terça-feira, 8 de Janeiro de 2013
milagre

 

nun speres bibir
de deseios d'anho nuobo:
cada die un milagre

//

viver não esperes
de desejos de ano novo:
cada dia um milagre

 

***

 

amadeu ferreira

 

*


lido em: http://lhengua.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 00:01
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013
não sei que dizer-te
não sei o que dizer-te
mais do que uma praça de gente
de passados em passadas
novos e velhos que se cruzam
sem revolta numa praça Espanhola
na ínfima parte da luz de uma estrela
ultrapassando a informação que aqueça demasiado
e adormecendo as mãos na arte de repetir as arcadas
para acalmar o cio do ciclo
colunas e sinos para amaciar a velocidade
guardar o ritmo de bicho num som que não se entende
e se entenda feliz
não sei o que dizer-te
dou lanço a esta praça
onde sei que também moras
e moram os abraços dos olhos no fim das ruas
mais lanço até que as arcadas criem em vento
a passagem frágil entre bichos extraordinários
rastos de luz em informação
que chegue apenas para rir
e encontro sempre um mesmo ponto  
nos desvios vermelhos 
no centro das praças Espanholas
de todos em todos

um beijo parado ao sol

 

***

 

joana espaín

 

*


lido em: http://avoltadascoisas.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 17:28
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Domingo, 6 de Janeiro de 2013
a josé catulo


Viu passamear todas as procissões
devotado companhante, sábio

 

de honesto festim mediu a vida
sem código ou pasta

 

livre
enterrou quase um século de estória

 

Porque mangas ocultas vestiu fraque
na morte?

 

Bolino, fausto e inseguro
em sua camisa de popelina
com sapato e tudo ...

 

em ata pompa

 

ei-lo
...almente a prumo

 

ao lado!

 

***

 

aurelino costa

 

*


lido em: Na terra de Genoveva

publicado por carlossilva às 04:49
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Sábado, 5 de Janeiro de 2013
circolando em linha recta

 

está orvalhada a rotunda memória como o leito
os corpos mudaram na desfolhada
traficaram-se na sociedade
a casa derrocada areja-se de primavera
e o olho cúmplice do sol atravessa o tempo

o pensamento revoluciona

quando só o mesmo se pode manifestar

 

o azul continua leve

os glóbulos vermelhos

carecem de furtos silvestres

 

o pé escorrega lentamente pela perna
que desliza para dentro do poço
o ouvido segue o voo do foguete
e estoura as mãos de saudade

 

despeja-se o rubor das pétalas no peito
e sai-se de bicicleta
circolando em linha recta

 

o mundo é um balão

marioneta colorida

na mão esquerda de um feto

 

***

 

fátima vale

 

*


lido em: 'spabilanto

publicado por carlossilva às 02:22
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Sexta-feira, 4 de Janeiro de 2013
(re)ser(vado) - poema A

 

Unha navalla lenta é o proxecto da identidade.
Unha celebración añil o re-coñecemento.

¿Cómo deixei que todo isto me sobreviñera?
O meu propio soño marchou de min comigo
Non podo permitir que se me malinterprete unha vez máis
¿Por qué me afectas?, ¿por qué me afectas aínda?.
Unha absurda desposesión infranqueable.

Pero que eu estaría ben, que non cumpren coidados xa sabes que total eu
estaría ben, sempre ben, aínda que non se me entendese aínda
que perdese a saúde na miña mocidade.
Eu tamén pensaba que podería controlalo.
¿Por qué me desesperas?, ¿por qué aínda me desesperas?.

Unha poza de notas sostidas,
un reiseñor mecánico é a tarde
¿Cómo tiven a coraxe de asumir a túa estratexia?

 

***

 

yolanda castaño

 

*


lido em: http://www.matematicasypoesia.com.es/colaboraciones/poema01_

publicado por carlossilva às 08:45
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Quarta-feira, 2 de Janeiro de 2013
fotos - da longa vaga - perpetuidade do sal

 

ficou-me do que vi - seu fato de banho - sucinto - a nudez - sob a pedreira - lucidez do inábil - a insistência dos mapas - por antecipação - as fotos - da longa vaga - areia branca - perpetuidade do sal -

 

***

 

alexandre teixeira mendes

 

*



lido em: http://www.douradaatempera.blogspot.pt/

publicado por carlossilva às 18:21
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Terça-feira, 1 de Janeiro de 2013
três

 

Necessitaria que o corpo me seguisse

e vivesse três vezes sendo eu mesma

 

Que amasse com ardor as coisas que adoro:

 

o pó sobre um velho móvel

as tuas olheiras

de rerum natura de Aristóteles

a espiga que entrega a vida nas mãos do meu pai como no Gólgota as tuas olheiras

o pelo negro e liso do espírito da cadela Perla

a tua mão no meu ventre

a comunicação com o mais além deste poema    a matéria

o último olhar de um ruivo

a massa do pão quando leveda e neva

sobre a densidade e a forma das tuas memórias

um tango

um telescópio para olhar-me ao espelho

as amoras   os ciganos   as mãos da minha mãe   a agulha da modista

um velho combatente doente que perdeu a guerra pensando que a ganhara

aquele que se espanta de ver o amanhecer

e é tocado pela sua guitarra como por um anjo

uma mulher que caminha em direcção a si mesma

e me leva pela mão

ao seu próprio destino

 

uma goma de três pesetas

o estômago duma vaca e a reverberação do trevo

o cérebro do meu irmão

que brilha como uma flor entre os números

o úmero do poeta amado

o meu sangue vivo   o meu canibalismo

a gota que encheu o meu copo

e tu

contando pelos dedos

a minha vida três vezes

três

a minha vida.

 

***

 

olga novo

 

*

 

[virado por BlogNi]


lido em: Cráter
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publicado por carlossilva às 21:53
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