desprázome nas noites molladas que
tingues de verde
ao presionarme baixo teus dedos de
papel.
aniquilantes furados na parede,
testemuña silenciosa da niña continua
execución.
afogada en bágoas que se derraman cara
a dentro,
para non darche o pracer de verme
perecer baixo teu.
liñas infinitas de xemidos na
inmensidade dun universo
que me é alleo, sinto tremer a cama nos
teus pes.
cando pechas a porta, os agarismos
transfórmante nunha besta,
que amo, que temo, que me fai perderme
na lámpada que colga do teito.
o único lugar no que non me podes
atopar.
***
eva méndez doroxo
*
Falta-me ferro. Sobra-me música e potássio.
Ninguém me entende visto-me com a saia da montanha
choro por qualquer coisa
espero uma carícia
como um milagre de pão de ouro e vitaminas.
Como carne de égua. Escuto passos nas minhas veias
e invade-me a alegria de um novo amor como um exército bárbaro.
Esta sou eu.
Metade árvore
metade escada de caracol
Metade tigela
metade beco duma vida à beira do Adriático
Metade abóbada metade sombra
metade contemplação metade auspício
Metade mofo metade pureza
Metade fonte metade varanda
metade horizonte metade estrutura mecânica
Metade flor de cerejeira
memória cortada pela metade
metade monte metade eu
metade madona metade neve.
A mim ninguém me entende.
Deixo tirar – me sangue e maçãs
minha tormenta
deixo que me auscultem vozes do outro mundo
dirijo a minha tensão como se fosse uma orquestra
tiram água de mim como de um poço cardíaco
às vezes
escuramente
inclusive sei o que digo.
Dizem que me falta ferro a mim
mas esta garganta minha
é um metal de transição entre a palavra e o peito.
E em contacto com a ternura posso adquirir um leve timbre oxidado.
No meu sonho ando pastando com as vacas no meio dum campo magnético.
Na minha vida real
sou a filha pequena dum pastor do fim do mundo.
Metade abóbada metade sombra
metade contemplação metade auspício
Metade mofo metade pureza
Metade fonte metade varanda
metade horizonte metade estrutura mecânica.
Metade flor de cerejeira
memória cortada pela metade
metade monte metade eu
metade madona metade neve.
Tiram-me sangue
Tiram-me
a mim
ninguém me entende.
***
olga novo
*
[virado do galego por BlogNi]
nun speres bibir
de deseios d'anho nuobo:
cada die un milagre
//
viver não esperes
de desejos de ano novo:
cada dia um milagre
***
amadeu ferreira
*
um beijo parado ao sol
***
joana espaín
*
Viu passamear todas as procissões
devotado companhante, sábio
de honesto festim mediu a vida
sem código ou pasta
livre
enterrou quase um século de estória
Porque mangas ocultas vestiu fraque
na morte?
Bolino, fausto e inseguro
em sua camisa de popelina
com sapato e tudo ...
em ata pompa
ei-lo
...almente a prumo
ao lado!
***
aurelino costa
*
está orvalhada a rotunda memória como o leito
os corpos mudaram na desfolhada
traficaram-se na sociedade
a casa derrocada areja-se de primavera
e o olho cúmplice do sol atravessa o tempo
o pensamento revoluciona
quando só o mesmo se pode manifestar
o azul continua leve
os glóbulos vermelhos
carecem de furtos silvestres
o pé escorrega lentamente pela perna
que desliza para dentro do poço
o ouvido segue o voo do foguete
e estoura as mãos de saudade
despeja-se o rubor das pétalas no peito
e sai-se de bicicleta
circolando em linha recta
o mundo é um balão
marioneta colorida
na mão esquerda de um feto
***
fátima vale
*
Unha navalla lenta é o proxecto da identidade.
Unha celebración añil o re-coñecemento.
¿Cómo deixei que todo isto me sobreviñera?
O meu propio soño marchou de min comigo
Non podo permitir que se me malinterprete unha vez máis
¿Por qué me afectas?, ¿por qué me afectas aínda?.
Unha absurda desposesión infranqueable.
Pero que eu estaría ben, que non cumpren coidados xa sabes que total eu
estaría ben, sempre ben, aínda que non se me entendese aínda
que perdese a saúde na miña mocidade.
Eu tamén pensaba que podería controlalo.
¿Por qué me desesperas?, ¿por qué aínda me desesperas?.
Unha poza de notas sostidas,
un reiseñor mecánico é a tarde
¿Cómo tiven a coraxe de asumir a túa estratexia?
***
yolanda castaño
*
ficou-me do que vi - seu fato de banho - sucinto - a nudez - sob a pedreira - lucidez do inábil - a insistência dos mapas - por antecipação - as fotos - da longa vaga - areia branca - perpetuidade do sal -
***
alexandre teixeira mendes
*
Necessitaria que o corpo me seguisse
e vivesse três vezes sendo eu mesma
Que amasse com ardor as coisas que adoro:
o pó sobre um velho móvel
as tuas olheiras
de rerum natura de Aristóteles
a espiga que entrega a vida nas mãos do meu pai como no Gólgota as tuas olheiras
o pelo negro e liso do espírito da cadela Perla
a tua mão no meu ventre
a comunicação com o mais além deste poema a matéria
o último olhar de um ruivo
a massa do pão quando leveda e neva
sobre a densidade e a forma das tuas memórias
um tango
um telescópio para olhar-me ao espelho
as amoras os ciganos as mãos da minha mãe a agulha da modista
um velho combatente doente que perdeu a guerra pensando que a ganhara
aquele que se espanta de ver o amanhecer
e é tocado pela sua guitarra como por um anjo
uma mulher que caminha em direcção a si mesma
e me leva pela mão
ao seu próprio destino
uma goma de três pesetas
o estômago duma vaca e a reverberação do trevo
o cérebro do meu irmão
que brilha como uma flor entre os números
o úmero do poeta amado
o meu sangue vivo o meu canibalismo
a gota que encheu o meu copo
e tu
contando pelos dedos
a minha vida três vezes
três
a minha vida.
***
olga novo
*
[virado por BlogNi]
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