Violinos de água, cavalos, veados de música,
florestas nocturnas de água e ciprestes.
E a lua, sempre.
Passa nos olhos, no cume da montanha,
a sombra que torna as palavras lentas
e os olhos turvos de espuma,
no silêncio espasmódico de beber gota a gota
o espaço que é assim,
lacustre nos olhos do assombro.
Porque falta o sol.
E um girassol de palavras que o possa abrir,
na noite, para cobrir a nudez, o vazio,
um esqueleto de nuvens em busca do oiro,
da vertigem,
desperto na erupção da bruma, do sangue,
a língua por dentro movendo o besouro negro
(antigo), onde tudo é intolerável,
entre paisagens aquáticas, dunas febris,
côndilos esfacelados, fragmentos de música,
magnólias, constelações,
linhas repassadas,
entre retalhos meniscais.
***
maria do sameiro barroso
*
HABITACIÓN DE HOTEL, 1931
(Edward Hopper)
Si hubiera una promesa
entre tú y yo, una cita
prorrogada, una luz allá a lo lejos
con que poder guiarme;
si quedase esperanza
- aunque fuese una triste
diminuta esperanza -;
si alguna vez tus labios
hubiesen pronunciado
la palabra mortal que yo anhelaba,
o algo que me sonara parecido,
pienso que aún hallaría
razón para aguardarte.
¿Y quién sabe si el trueque de la carne
no fue, de alguna forma, una promesa?
***
josefa parra
*
Del libro Alcoba del água
*
QUARTO DE HOTEL, 1931
(Edward Hopper)
Sei houvesse uma promessa
entre ti e eu, um encontro
adiado, uma luz lá ao longe
que pudesse guiar-me;
se restasse esperança
- ainda que fosse uma triste
diminuta esperança -;
se algum dia teus lábios
tivessem pronunciado
a palavra mortal por que eu ansiava,
ou algo que me soasse parecido,
penso que ainda encontraria
razão para esperar por ti.
E quem sabe se a permuta da carne
não foi, de alguma forma, uma promessa?
*
[trad: cas]
malgastábamos el tiempo
ordenando en un álbum las fotos del verano
para mirarlas alguna vez con nostalgia
acumulábamos canicas piedras
libros cartas poemas
aplazábamos así la felicidad, la vida
todavía no sé por qué
todavía no sé para cuándo
***
isabel bono
*
O FUTURO ACABARÁ POR CHEGAR
desbaratávamos o tempo
ordenando num álbum as fotos do verão
para olhá-las qualquer dia com nostalgia
acumulávamos berlindes pedras
livros cartas poemas
aprazávamos assim a felicidade, a vida
ainda não sei porquê
ainda não sei para quando
*
[trad: cas]
amor
que sostés os meus pulsos coma se foran
cuncas diminutas de cerámica chinesa
e non sabes que as cereixas
deixaron de medrar
ata que volvas
***
dores tembrás
*
amor
que sustentas os meus pulsos como se eles fossem
bacias diminutas de cerâmica chinesa
e não sabes que as cerejas
deixaram de crescer
até que voltes
*
[trad. cas]
Na curva do teu corpo,
além tejo,
reclino a alma,
descansada.
Desfruto a sombra
fresca,
o mel,
a água da Pátria amada.
***
conceição paulino
*
na cela que é o corpo
fechado
planisfério
fagulha votiva
de hélio
agoniza
a virgem fria
dos cleros
na cela que é o corpo
outro corpo
herético
sigila
o cio hermético
almagesto
soubessem as negras centelhas
que esta crença liberta
extinguiram todas as vendas
matéria dolorosa
evaporada
rezassem as missas vermelhas
que este júbilo desperta
constelariam todas as sendas
matéria gloriosa
revelada
na cela que é o corpo
outro corpo
duplicata
homúnculo & quimera
éter na terra cinza no céu
hienos gamos na atmosfera
***
andréia carvalho
*
a máquina de lavar
modelo tanquinho
destrói semanalmente
os tecidos íntimos
***
ana guadalupe
*
Seguiu vendo o parte do tempo,
non para informarse do estado do tránsito
nin da predición para os días que non se traballa.
O que quería era coñecer de verdade
o clima mais ao xeito para cada sazón.
E continuou consultando o almanaque
para saber cando había lúa nova
ou ver ata onde chegaba o crecente.
Coidaba que gañara o ceo
ao escoller un minguante
para se desarraigar da tradición urbana,
a época na que mellor prenden
os enxertos.
***
xoan carlos dominguez alberte
*
à porta da lama abrem-se os pulsos. abnegados
tornos que accionam a combustão. como se fogo e vento
fossem a mesma faúlha. como se
os justos sucumbissem ao mosto
das noites. safra esplêndida e mortal.
cerram-se os dentes. depois as pálpebras.
sofreguidão. depois
continuamos o ornamento do território.
***
sandra guerreirro dias
*
Dormindo à porta do sonho
teu corpo é a janela que entra
***
raul macedo
*
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