Quarta-feira, 31 de Outubro de 2012
vá de retrato

 

O que temos?

 

nós que, não sobrevivemos,

mas vivemos do dilúvio.

 

no espelho verde-irônico, contra o sol vermelho,

a arca descomunal e seu capitão:

 

cabra-velha parida não sei onde

cara de anjo pinto de marmanjo

a mula que cagava dinheiro

 

na mão direita uma pomba,

na mão esquerda um corvo e a letra B

 

e os 7 pares de bactérias homicidas.

 

deus, alá, satã ou jeová

quem criou a desmesura deste leviatã?

 

***

 

daniel faria

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ

publicado por carlossilva às 00:01
link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 30 de Outubro de 2012
há begônias lá fora

 

1.

espera. há algo a ser dito. os olhos buscam

fragmentos denegados de nada
no esmeril da pele

2.

estreita. rede de fiandeiras. mãos
que procuram

recifes. tridentes. o mar que trina
é quase

um pássaro

3.

estanque. o fluxo dos papiros. há begônias
lá fora. recrudesce o olhar

o céu real

é azul

4.

reconhece. na tessitura dos pianos. há vozes
vulcânicas

à espera do vento

5.

recua. se te parece longo o ofício. se o fardo
te curva

pauta. a tua vida pela tua crença

e segue. não há atalhos

6.

resiste.

 

***

 

nydia bonetti

 

piracaia - são paulo, 1958

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ

publicado por carlossilva às 00:10
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 29 de Outubro de 2012
fotografia dos meus avós


Ela tem o corpo levemente inclinado
acompanhando, também com a cabeça,
a bela doçura do olhar que a tarde continua
e que mistura, ao rumor da alegria,
para cujo lado o rosto se inclina,
a sombra já, como conjura, de uma
quase visível nostalgia;
nele há um pouco mais de desajuste,
de susto, corpo grande e no entanto pueril,
no fruste meneio das mãos atrapalhadas,
aos atoleiros da vida desatreito, cerrado,
viverá entre caçadas e cães
e morrerá na Ria

 

***

 

maria andresen de sousa

 

*


lido em: http://www.photomaton.net/ler22.html

publicado por carlossilva às 01:16
link do post | comentar | favorito

Domingo, 28 de Outubro de 2012
desvio para o vermelho

 

Alice não tem mais tempo Senta no chão

e chora Suas lentes estão gastas desde que o Outono

desfez-se como um pesar sobre a natureza Ela

não tem mais tempo e mesmo assim gostaria

de ouvir o rugido que vem das estrelas ou

do espaço entre elas ou não se sabe de que

nenhures vem este rumor que se confunde com a cidade

trincando suas engrenagens enquanto

as galáxias se afastam com ela no centro

sem endereço fixo vendo as estrelas indo embora

como efeitos locais de tanta espera e inventando

teorias pinçadas do se que observa nos escombros

de ser quem é Alice não tem mais tempo Ela

permanece olhando o passado em estilhaços

que são espelhos que fogem com as galáxias

pra dentro de si mesmos apagando pistas Ela

senta no chão e chora cada descoberta como

o acidente de estar no centro e só enquanto

as luzes se afastam antes que se pudesse definir

de onde vem a sua urgência Ela não tem mais tempo

e os pombos não podem mais voar Não podem mais

levar nenhuma carta

 

***

 

nuno rau

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ
tags:

publicado por carlossilva às 00:07
link do post | comentar | favorito

Sábado, 27 de Outubro de 2012
me he propuesto jugar a la vida de pueblo

 

Me he propuesto jugar a la vida de pueblo.
Comprar naranjas al señor de la esquina
-este juego sólo es factible en mi barrio,
un ex-pueblo-
rastrear el sosiego en las callejuelas lindantes
a la iglesia, y encontrar algún perro dormitando
en el empedrado;
contemplarlo,
sin sentir premura por llegar a ningún sitio,
sin pretender destilar el tiempo.

Después quisiera que vengas donde estoy
con la única pista que pudiera sugerirte
la luz del día,
sin otros mensajes que no sean certezas,
la de saber tomar el camino hacia mi casa
y luego dejar caer tu mano
sobre mi puerta.

 

***

 

julieta viñas arjona

 

*


lido em: http://dulcearsenico.blogspot.pt/search/label/Julieta%20Vi%C

publicado por carlossilva às 09:00
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 26 de Outubro de 2012
livro de cabeceira

 

A vida ficou dobrada

dentro do livro de cabeceira

como folha sem raiz.

O tempo apagou os meninos

que não puderam crescer

e se espalharam em sótãos e porões

se empoeiraram de luz.

Um horizonte de céus rompidos

destramou as linhas da mão.

 

***

 

luciana marinho

 

recife (brasil)

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ

publicado por carlossilva às 00:32
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 25 de Outubro de 2012
escrevo como quem quer ser escrito

escrevo como quem quer ser escrito

uma árvore ou uma pena no centro da frase
um espelho branco onde observo a palavra

e dos seus troncos brotam folhas, letras
inundações de verde no lago azul do céu
que caem, voando, asas de papel

como tu, também eu sussurro
lentas sílabas à leve melancolia que nos abraça

 

***

 

jorge reis-sá

 

*


lido em: www.citador.pt

publicado por carlossilva às 15:57
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 24 de Outubro de 2012
astrolábio

 

A linha concisa, a seta.

A lâmina das vagas que

rasgam a esfera. Perscrute

e meça.

 

Sobre o rastro do

oriente. Deriva

o vazio sem lume.

Acenda-lhe um nome.

 

No calor das anêmonas

sulcando as artérias

do atlântico. Desfralde

da nave, a vela, inflame.

 

E quando Os signos

despencarem dos

pomares abissais.

Oferte o poema.

 

lastro de vendavais.

 

***

 

jonatas onofre

 

paulista (brasil)

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ

publicado por carlossilva às 13:21
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Terça-feira, 23 de Outubro de 2012
7 poemas


1.

se encontró con el sol
adentro de una taza,
un mensaje cifrado
referente a un trayecto,
el barco anclado a la tormenta,
imágenes de un mar hecho de espigas
aquellas impurezas
que sostienen el blanco
como algo que es creíble,
una estrella minúscula cargaba con el mundo
donde ese lugar cálido
al que volver por siempre
las palabras de tinta
tan llenas de silencios,
pero se encontró el sol
adentro de una taza
y tuvo que emprender este viaje


2.
había tantas formas
de ganarle al tiempo
la niña azul temblaba
desnuda en la nevera
con gritos de hojalata
pinceles por si acaso
caballos blancos
caballos blancos
una bata manchada
por los cuentos de hadas
ciudades blancas
ciudades blancas
y luego un muro


3.
no abandones el cauce de este río
y siempre estarás yendo a alguna parte
hablarán los miedos de cada uno
cuando llegues:
un personaje nuevo en la obra de siempre
pase usted, tome asiento, acomódese
al principio el paisaje será hermoso y tranquilo
poco a poco irás viendo las trampas y las grietas
y te enfadarás mucho contigo mismo
tratarás de cambiarte de traje o de vestido
y tu corte de pelo te parecerá horrible,
intentarás arreglarlo
pero una niña azul desnuda
saltará sin cesar de un lado al otro
dentro de la casa y no te dejará
ver que llega mañana,
un día, y otro día, y otro
días blancos


4.
luego un hambre ya vieja
que nunca sacia nada,
llorará usted
como el resto lloramos cuando vemos
las flores serán pronto
servilletas gastadas
y la vida
una broma que nadie entiende


5.
por qué la niña azul ahora está tan quieta
por qué su desnudez tiene un nombre distinto
por qué nadie la oyó cuando advertía:
sigan andando, damas y caballeros, no puedo
mantenerme siempre alerta



6.
sacaron de la tinta éste silencio
un loro de colores repetía tu nombre
como un martillo
la niebla en las palabras
provocaba accidentes
pero nadie se hacía responsable de nada
“y son cosas que pasan”, “yo no he sido”
el loro repetía tu nombre como un rezo
y no había lugares comunes
¿eso es bueno?


7.
y luego del “the end”
comenzaba otro pase,
como siempre

 

***

 

isabel garcia mellado

 

*


lido em: www.laotrapequenyita.blogspot.pt

publicado por carlossilva às 11:45
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012
cinegrafias

 

Na poltrona, desperto. Os ruídos

soprando grandes triângulos.

Pirâmides. Cilindros. Em

filas de cinema vislumbrei os pesados volumes

da terra sem lei. No Odeon as mímicas automáticas

de luminosas tesouras de titânio, cortando os tickets

amarelos. As musas sob a pesada lona

exaltavam Wagner e as danças de mãos juntas.

As musas não se entendiam. Forçavam a trilha sonora

nos narizes. Nas testas. Onde assinavam as cifras

e o roteiro da obra-prima. Na poltrona, sabia ser Gigante

e subtrair espíritos em pequenos grunhidos. Era permitido

obter a glória na cabeça do vilão. As palavras flexíveis

viriam das bocas das ninfetas e bem antes das letrinhas.

Porque as musas são de bronze. Porque o céu é de couro.

E depois, porque o depois é fim, na última nota do violino e

no último crédito de figurante, todas as películas do sonho

se tornam urna una e imensa gota corporal

fugindo de olhos entreabertos.

 

***

 

gabriel resende santos

 

rio de janeiro (brasil)

 

*


lido em: Desvio para o Vermelho - Treze Poetas Brasileiros Contemporâ

publicado por carlossilva às 03:13
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
agenda
18 de abril 2013 19 de abril 2013
Junho 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
14
15

18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

fogo e água

pára-me de repente o pens...

si digo mar

infância

trapo de voz representa o...

nana para gatos a punto d...

sou uma coluna crematória

dois poemas

nacín vello de máis

uelen

arquivos

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

a m pires cabral(4)

adelia prado(5)

adilia lopes(8)

al berto(6)

alba mendez(4)

albano martins(4)

alberte moman(8)

alberto augusto miranda(9)

alexandre teixeira mendes(11)

alfonso lauzara martinez(8)

alice macedo campos(13)

alicia fernandez rodriguez(5)

almada negreiros(4)

amadeu ferreira(8)

ana luísa amaral(6)

ana marques gastao(4)

andre domingues(5)

andreia carvalho(4)

antonio barahona(5)

antonio cabral(5)

antonio gedeao(5)

antonio ramos rosa(7)

anxos romeo(4)

ary dos santos(5)

augusto gil(4)

augusto massi(4)

aurelino costa(11)

baldo ramos(6)

bruno resende(5)

camila vardarac(9)

carlos drummond de andrade(5)

carlos vinagre(13)

cesario verde(4)

concha rousia(4)

cristina nery(5)

cruz martinez(9)

daniel filipe(5)

daniel maia - pinto rodrigues(4)

david mourão-ferreira(6)

elvira riveiro(8)

emma couceiro(4)

estibaliz espinosa(7)

eugenio de andrade(8)

eva mendez doroxo(8)

fatima vale(10)

fernando assis pacheco(4)

fernando pessoa(5)

fiamma hasse pais brandão(5)

florbela espanca(7)

gastão cruz(5)

helder moura pereira(4)

ines lourenço(6)

iolanda aldrei(4)

jaime rocha(5)

joana espain(10)

joaquim pessoa(4)

jorge sousa braga(6)

jose afonso(5)

jose carlos soares(4)

jose gomes ferreira(4)

jose luis peixoto(4)

jose regio(4)

jose tolentino mendonça(4)

jussara salazar(6)

luis de camoes(5)

luisa villalta(4)

luiza neto jorge(4)

maite dono(5)

manolo pipas(6)

manuel alegre(6)

manuel antonio pina(8)

maria alberta meneres(5)

maria do rosario pedreira(5)

maria estela guedes(7)

maria lado(6)

maria teresa horta(5)

marilia miranda lopes(4)

mario cesariny(5)

mia couto(8)

miguel torga(4)

nuno judice(8)

olga novo(17)

pedro ludgero(7)

pedro mexia(5)

pedro tamen(4)

raquel lanseros(9)

roberta tostes daniel(4)

rosa enriquez(6)

rosa martinez vilas(8)

rosalia de castro(6)

rui pires cabral(5)

sophia mello breyner andressen(7)

suzana guimaraens(5)

sylvia beirute(11)

tiago araujo(5)

valter hugo mae(5)

vasco graça moura(6)

virgilio liquito(5)

x. m. vila ribadomar(6)

yolanda castaño(10)

todas as tags

links
pesquisar
 
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub