unha palabra non abonda
para encher os tinteiros de maio
con rescaldos de noite e metáforas grises.
ese aire non pode atravesar
a voz que alenta neste cuarto baleiro.
ladran os cans
mentres maduran as cereixas doutra perda.
unha ollada non pode calar
o que ven no poema os teus silencios,
nin compracerse na causa que os obriga
a que escriba na noite, ás apalpadas,
estes versos roubados
á memoria de perderte.
***
baldo ramos
*
Hai baixo as pálpebras de carbón
un mar de amargura diluído nas meniñas
que voan na soidade dun ceo toldado
cara un horizonte incendiado de esperanza
onde o sol prende insolente unha lareira,
lume de áurea nun sorriso que arde,
que lanza en coraxe a súa dentaina de escume,
que brinca incesante de ondaxe en bravura
contra os seres de area que soñan coa lúa chea.
Hai un mar salvaxe de inmensidade plena
que enche mareas crispadas de escume,
avanza imparábel co vento dos tempos
e asalta en cada avance un aturuxo.
Hai un mar que ama, en combate
coa mesma ilusión que no horizonte desafía.
***
alfonso láuzara martínez
*
levo sobre a pel
as bágoas
das mulleres todas que foron estirpe
e que hoxe son tan só mulleres
o cheiro a estrume
das zocas que bateron o meu corpo
a condición do ser
invisible
as pegadas
a sombra
a orixe
que deu en min
escrava
***
alberte momán
*
A miña beleza sinala co dedo,
espella os meus cristais,
ofende.
A miña beleza que intimida,
que enerva sen falar,
que acovarda.
A miña beleza que prognostica,
que me eclipsa,
que me traizoa.
A que me vende barata,
a que amortiza os meus fallos,
que se me adianta.
A que levanta suspicacias,
a que disuade de min,
que desvirtúa.
A miña beleza que me somete,
faime criada de si,
a que me ata.
A miña beleza desvergoñada,
que te enfronta contra ti,
que me negocia.
A miña beleza que me deturpa,
que embaza os meus cristais,
a que me nega.
A miña beleza que manipulo,
que non outorga perdón,
a que me agacha.
***
yolanda castaño
*
Poética de um Rosto?
Que a neofiguração se torne ní-
tida. Do objecto sedutor. Incrus-
tado nas vozes. Quanto resul-
taria, iluminado pelo silêncio.
O painel de onde se despren-
de a linha. Um modelo clássico
que revele. As palavras eter-
nas da fábula de Hero.
Proximidade incompreensível
como a de alguns poemas. Sen-
timentos que são indecifráveis.
Uma dedução para o fim. Tal-
vez o amor jubiloso dentro
da quarta parte da pupi-
la do olhar divisível pela
cruz axial. Encontrado na pai-
sagística do rosto. Expecta-
tiva de um sentido propício. A
revelação verso por verso.
***
fiama hasse pais brandão
*
1.
Sou ateu mas faço santos,
cascatas, figuração,
faço risos, faço prantos,
faço a vida ó S. João!
Artesão
2.
Uma oculta semelhança
No baile vi traduzida:
São vida os passos da dança,
São dança os passos da vida
Poeta Bailarino
3.
Sem ter dons de pensamento,
Sem ser santo ou vagabundo,
Nunca tive acolhimento
Nas cascatas deste mundo
Pau Santo
4.
De ti falou toda a gente,
mas não te importes, meu bem;
quando a água é transparente
vê-se no fundo o que tem!...
Romão
5.
Ai, mulheres, saiam de casa,
No São João, façam greve!
Como eles, batam a asa,
Como eles... de ânimo leve...
Femi-Nista
6.
Cachopa se não tens par
só para a dança não vás;
Que a roda pode contar
As voltas que tu não dás...
Olho Vivo
7.
Uns vêm cheios de enlevos,
outros de tristes nascentes...
Só me dá pena que os trevos,
tenham sortes tão diferentes!...
Albatroz
8.
Maria, se vais à fonte,
Cuidado co'a cantarinha,
Não vá ser que haja no monte
Uma sede igual à minha...
Troca-Tintas
9.
Por eu saltar a fogueira
Riram de mim, São João:
Que tem ser velha e gaiteira,
S'inda pula o coração?...
Velha Gaiteira
10.
O vento enrola na corda
a roupa nela estendida,
S. João bem me recorda
o estendal da minha vida!
Estela Polar
11.
Tua boca - canção leda...
Meus olhos - trevos da sorte...
... Acabámos labareda.
Depois... cinza ao vento Norte!
Fénix
12.
Juntinho ao teu coração
Que a dança põe excitado,
O Cristo do teu cordão
Nem parece um condenado
Dom Pina
***
Estraña son
sen dúbida.
Pero enténdeseme moito mellor
cando deixo falar a planta alucinóxena
cando cos teus dedos podes ainda tocar
o cobre almacenado no meu fígado
cando volvo nacer
e sobre todo
cando quedo calada
e me poño a ler catro peras
ó bordo dun camiño
***
olga novo
*
Para todos los que sienten que no están al mando
Me habría gustado ser hija de Ícaro.
Hubiera sido hermoso festejar
_____________las bodas de Calixto y Melibea.
Me habría gustado ser
___ un hitita ante la reina Nefertari
___ el joven Werther en Río de Janeiro
___ la deslumbrante dama sevillana
___________________por la que Don José rechazó a Carmen.
Yo quisiera haber sido el huerto del poeta
___________________con su verde árbol y su pozo blanco
___________________el inspector fiscal
__________________________con el que conversara Maiakovski.
Me habría gustado amarte. Te lo juro.
Sólo que muchas veces la voluntad no basta.
***
raquel lanseros
*
as tardes de domingo, começam assim
sair de casa, como se fora para longe…
e voltar a ela, sem vontade de fazer nada.
Tenho o domingo no corpo
minha mãe prepara a feijoada com solas para o almoço
meu pai dorme na tarde para a semana inteira.
e ressona alto.
as vacas e seu cheiro entranham-se-me.
minha mãe tira leite, mais cedo que o habitual
e adormeço num silêncio quente
gosto de não existir neste tempo.
Meu pai, abeira-se de minha mãe. Todos quietos.
eu não entendo nada.
Talvez, por isso, pereça a poesia.
***
aurelino costa
*
preguntas te pula grandura de l berano:
miedo que la calor se buolba febre de la spera.
pides me que te lhiebe tanta cousa
mas solo palabras tengo i un mirar triste
i un sereno para adundiar la manhana
hei de te preguntar pula tela
que te pedi para nun parares de tecer
anquanto por ti speras
i candeia inda busco pa la nuite
zupiado, inda l silenço puode abrir sou assopro
para aguantar l troniar de ls dies antigos
***
amadeu ferreira
*
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