Un hombre
está sentado a su mesa.
Bebe.
Conserva en alcohol mi sombra.
La empapa hacia adentro
y la resuelve en humo.
Tanto, tanto
estoy presente en su ausencia
que si ahora mismo
me sentara con él
y tomara su cara
con mis ojos,
de seguro,
no me vería.
***
nora nani
leones (argentina), 1946
*
Um homem
Está sentado à sua mesa.
Bebe.
Conserva em álcool a minha sombra.
Inspira-a
E devolve-a em fumo.
Tanto, tanto
Estou presente na sua ausência
Que se agora mesmo
Me sentasse com ele
E tomasse a sua cara
Com os meus olhos,
Seguramente,
Não me veria.
*
[trad: cas]
“…yo no sé de pájaros, no conozco la historia del fuego. Pero creo que mi soledad debería tener alas…”
A. Pizarnik.
el aliento no es un río ni un oscuro pecho, es el lugar donde nos reconocen los espejos, el vértice de la casualidad y el hastío.
sólo el tiempo es real y existe. sólo el abandono crece y nos sigue hacia la conocida cerradura de una rosa violenta, hacia la despedida de un rostro muerto de hambre, oliendo para no sentirse solo.
ya no extraño la amargura ni el ruido de las palmeras.
no pienso más en los pisos que rodean el techo de estrellas y los mapas de invernadero.
no siento más la caída,
soy un puente que estudia tus ojos, la garúa que flota a través de las
ventanas,
un reino de manzanas, fugitivo y encendido.
***
andrea cabel
lima, 1982
*
os heróis e os disfarces
“…yo no sé de pájaros, no conozco la historia del fuego. Pero creo que mi soledad debería tener alas…”
A. Pizarnik.
o respirar não é um rio nem um peito escuro, é o lugar onde nos reconhecem os espelhos, o vértice da casualidade e o fastio.
só o tempo é real e existe. só o abandono cresce e segue-nos até ao conhecido fechamento de uma rosa violenta, até à despedida de um rosto morto de fome, cheirando para não se sentir só.
já não estranho a amargura nem o ruído das palmeiras.
já não penso nos andares que rodeiam o teto de estrelas e os mapas de invernadouro.
já não sinto a queda,
sou uma ponte que estuda os teus olhos, os chuviscos que flutuam através das
janelas,
um reino de maçãs, fugitivo e aceso.
*
[trad: cas]
Sufocados pela monotonia da vida, eles
respiram só neste momento
em que ele estreita a cabeça dela nos braços
a falar do amor, e até da morte
como se a morte fosse o amor sublimado
e a escada para o paraíso.
No lençol em desalinho e molhado,
o mar ainda a ondular
e a tempestade, a ocupar o céu.
Eles continuam a navegar ou voar
mesmo com o destino condenado à terra.
***
yao feng
pequim (china), 1958
*
ao tocar um caminho
falei-lhe ao ouvido
de uma matéria mais quente
para se esquecer da imitação das árvores
à escala de uma estação o olhar
cada volta que a informação dá no espaço
como um convite para dançar
fomos deixando crescer as árvores
não era urgente falar de árvores
não são urgentes as praças
não sou urgente?
ao toque os caminhos acalmam
e sentam-se nas praças
fingem dormir
nesta praça
a cair
de uma estrela
onde a informação se encostou um dia
apaixonada pelos olhos de um bicho
e caminhou
***
joana espain
*
el resto son hojas que oscurecen la ventana
las paredes
el cielo frío como un rechazo
yo bailo en mi cuerpo un fragmento de esplendor
afuera la calle
su rigidez de cosa extraña
no tengo explicación para la carne
ninguna verdad
hay luces por fuera de la casa
no me entrego a sus brazos
soy el pensamiento helado de esta noche
***
roxana palacios
buenos aires, 1957
*
apesar de tudo os pássaros cantam esta noite
o resto são folhas que escurecem a janela
as paredes
o céu frio como um ricochete
eu bailo no meu corpo um fragmento de esplendor
lá fora a rua
sua rigidez de coisa estranha
não tenho explicação para a carne
nenhuma verdade
há luzes fora da casa
não me entrego aos seus braços
sou o pensamento gelado desta noite
*
[trad: cas]
(A Juan Luis Hernández Milián)
Con la misma elegancia de un barco que se hunde
aunque el capitán no quiera darse cuenta
ni los tripulantes le hayan informado.
Con la mala suerte en el amor
que acompaña a los eternos
perdedores de veintiuno
y escala real. Observando
el mismo y riguroso lenguaje
que adoptaran tanto los amantes
clandestinos como los militantes
de la misma condición: para darte
simplemente las gracias, para que no
se te olvide esa vez que fuimos a Milwaukee
tu pelo a imitación de las estaciones seguía
siendo rubio y las deudas no nos importaban.
Éramos pobres y el auto no
tenía seguro: pero eso
era para ti como
los venados que tuve que esquivar en el camino.
Un animal a punto de morir que
después podríamos cocinar
para recordar esos tiempos felices
cuando las palabras no se habían separado
de las cosas y no era necesario hablar en clave:
una rosa era una rosa era una rosa
permitidme hacer la cita en el pasado
permitidme respirar nuevamente bajo el agua:
o por lo menos así lo parecía.
***
cristián gómez olivares
santiago de chile, 1971
*
uma dama é uma dama é uma dama é uma dama
(A Juan Luis Hernández Milián)
Com a mesma elegância de un barco que se afunda
ainda que o capitão não queira dar-se conta
nem os tripulantes o tenham informado.
Com azar no amor
que acompanha os eternos
perdedores de vinte e um
e escala real. Observando
a mesma e rigorosa linguagem
que adotaram tanto os amantes
clandestinos como os militantes
da mesma condição: para dar-te
simplemente as graças, para que não
te esqueças dessa vez em que fomos a Milwaukee
o teu cabelo imitando as estações continuava
sendo ruivo e as dúvidas não nos importavam.
Éramos pobres e o carro não
tinna seguro: mas isso
era para ti como
os veados que tive que evitar no caminho.
Un animal a ponto de morrer que
depois podíamos cozinhar
para recordar essos tempos felizes
quando as palavras não se tinham separado
das coisas e não era necessário falar em código:
uma rosa era uma rosa era uma rosa
permiti-me marcar encontro com o passado
permiti-me respirar novamente debaixo de água:
ou pelo menos assim parecia.
*
[trad: cas]
Eres interesante como partido de golf en televisión.
Sentado te bronceas con la voz del locutor metida en esa
caja.
El sol se pone, la luna se pelea con un gato. En la puerta
mis muertos esperan para sentarse a tu costado.
Me dan las doce. No dejaré el corazón enfriando en la
nevera, aún tiene sangre que estrenar.
(de Casa de sol)
***
claudia luna fuentes
monclova - coahuila (México), 1969
*
És interesante como jogo de golfe na televisão.
Sentado bronzeias-te com a voz do locutor metida nessa
caixa.
O sol põe-se, a lua luta com um gato. Na porta
os meus mortos esperam para sentar-se nas tuas costas.
Batem as doze. Não deixarei o coração esfriando na
geleira, ainda tem sangue para estrear.
(de Casa de sol)
*
[trad: cas]
Sigo el camino del esternón,
busco el origen de la sed,
voy al fondo de un cañón de paredes plateadas,
sólidas merced al tiempo,
movedizas cuando el aluvión,
cuando la infancia, era glacial.
Colecto las raicillas del pensamiento.
Las cargo a mi espalda erosionada
junto al agreste olvido que cae de mí.
Se asoman
desde pequeñas cuevas,
los indicios del dolor;
veloces burlan las miradas
y vuelven a ocultarse en la piel del cañón.
Inscritas en las paredes,
las coordenadas indescifrables
del rayo prehistórico
que formó mi faz.
Tiempo de la hondura,
tiempo sin sílaba,
cuando soy sólo un sonido
en tránsito a la fatiga.
Busco un manantial
que bañe la pregunta adherida a mi historia.
Busco la vida recién nacida
y hallo la sed.
Sigo la senda del esternón.
***
angye gaona
bucaramanga (colombia), 1980
*
Pelo desfiladeiro fora
Sigo o caminho do esterno,
procuro a origem da sede,
vou ao fundo de um desfiladeiro de paredes prateadas
sólidas graças ao tempo
movediças quando o aluvião,
quando a infância, era glacial.
Colecto as pequenas raízes
Levo-as nas minhas costas erodidas
junto com o agreste esquecimento que de mim cai
Assomam
a partir de pequenas covas
os indícios da dor;
velozes burlam os olhares
e voltam a ocultar-se na pele do desfiladeiro.
Inscritas nas paredes
as coordenadas indecifráveis
do raio pré-histórico
que formou a minha face.
Tempo da fundura
tempo sem sílaba,
quando estou apenas um som
em trânsito para a fadiga.
Procuro um manancial
que banhe a pergunta associada à minha história.
Procuro a vida recém-nascida
e acho a sede.
Sigo a senda do esterno.
*
[trad: aam]
Era triste añorarte,
sentir el tiempo
como una brecha separando continentes,
engullendo rutinas,
reduciendo a polvo los lugares comunes,
y el avance de la certidumbre
como un animal sibilante augurando fines,
borrando huellas,
presagiando que nada, nadie, volvería a ser,
eso era lo más triste
de añorarte.
***
marta noviembre
barcelona, 1976
*
Era triste sentir a tua falta
Sentir o tempo
Como uma fenda separando continentes
Engolindo rotinas
Reduzindo a pó os lugares comuns,
E o avanço da certeza
Como um animal sibilante augurando o fim,
Apagando marcas,
Pressagiando que nada, ninguém, voltaria a ser,
Isso era o mais triste
De sentir a tua falta
*
[trad: cas]
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