Está cayendo sobre mí
una lluvia gruesa
que huele a pescado viejo.
Se sienten verdes los edificios
y los pasos de cebra.
Es más verde
el verde de las hojas
con el tronco ennegrecido
por el agua.
Llueve verde y tiñe
de verde mi espanto.
Son verdes tus pupilas
mirando esta lluvia de fantasmas.
Soy charco que refleja césped
y césped que amontona lluvia.
Somos norte y nube y camino
sin norte plagado de nubarrones.
Mi voluntad reverdece en esta tarde
mojándome los pies
y, en tus pies mojados,
me tumbo a echar raíces.
***
sonia san roman
*
Como nos vai na urdime das palabras
por tanto aniversario que trasnoita
e anda en soño sentido nas esperas?
E véxote sempre vir de algar canda os fulgores
do solsticio, noite en luz que nos amence e somos
posuídos pola maxia das fontes e dos mares:
versos brancos cabalados no alto coma pedras
informes onde asubía o vento dos refachos
que despois vai no auxilio de alguén que chama ao lonxe
e grita: ven axiña, non pouses, sube ao colo
da Terra e cadra aquí con nós un tempo
de silencio encantenón acorda outra mornura
e antes foxe o desamor, o esquenzo, a tolería
de non ser senon aquela sombra que acompaña:
ROSALÍA NA DANZA DA RISA E DA INTEMPERIE
NUNCA ALTARES
***
xosé vásquez pintor
*
A Carmen: al otro lado
del prisma, el molde
de saber dar
Digamos que por el hijo cae la sal sobre las páginas
de un libro primigenio
y sólo por él la luna, el sol la tierra (soy mencionada,
como un intenso atributo)
sólo por él no corto los hilos -de la figura,
y aún tejo las redes
antes del mar
- en la sangre quedaron bien peinados ,
como hileras,
sus movimientos
entonces entonaba la geometría
- el secreto de la colocación balaba
la escritura
del mar vengo, para la tierra he sido
un atributo intenso
aquí y ahora no deben ser permutados, justo el tiempo
de la lactancia
(susurra de boca del secreto
en la gruta que daba al agua)
Sólo por él, el tiempo la obra sobre el tambor
del vientre
habrán de clavarme
o concedido el amor para entregar la sal,
aún viva
cae
de mis manos al libro
***
yaiza martinez
*
contra mim bate a esperta difusão
do tempo, a extensa confusão do
olhar, a vibrante galeria da
cor: o espaço. durante uma
pequena e qualquer loucura, não
me componho.
se não somos mudos, ficarei
surdo. nestas rochas onde o
sol se desleixa e persegue as
águias que escondem ninhos
secos.
e é quando tento agarrar
o sol que reparo ter
as mãos convexas
***
valter hugo mae
*
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita genteque come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
***
mário cesariny
*
O efeito desprende-se da causa
tal como a faca se solta
da pura coisa
que não recortou na matéria.
E as cinzas de meu pai que estão
ocultas na urna separam-se
do meu berço
***
fiama hasse pais brandão
*
Regressas... é a hora, agora.
De um ofício de corpo presente?
Por te amar in absentia
O peito me cobriram de sangue
Os sagitários romanos.
Sebastião, meu Sebastião!
Nas areias deste areal contas
Pelo rosário que te rezo
Com Deus à escutas nas ondas
Lendas de monstros meninos...
Cruel o nosso fado! A tua virgindade
Coroa o meu pénis com espinhos.
Porque eu sou o grande mar Atlântico
Desejo que por vagas nos conduz
Aos cimos do amor que te tenho...
Eu sou o que às Portas de Hércules se tetém
O nome saboreando à oliva e ao figo seco
Para te amar aqui, além de Além.
***
maria estela guedes
*
Poética matemática
ideas surrealistas antagónicas
vibracións ondulatorias e,
dramas de caixa de música…
Todas elas arrodéanme e coaccionan
formando un ser subliminar
desesperado na súa noite perpetua.
Atácanme palabras baleiras
que saen das gorxas
que se erguen como deuses
sentados na súa gran verdade.
É mellor crer na dúbida
na melancolía, divagación,
na soidade que é unha realidade…
Na limitación que non nos deixa coller
as uvas temperás da nosa vendima
nun amencer de moitos soles, que xiran.
E busco os meus soños como barcos
á deriva, sen tripulación nin capitán.
Só, outro barco pantasma
navegando sen máis.
***
rosanegra
*
A través del follaje perenne
Que oír deja rumores extraños,
Y entre un mar de ondulante verdura,
Amorosa mansión de los pájaros,
Desde mis ventanas veo
El templo que quise tanto.
El templo que tanto quise...
Pues no sé decir ya si le quiero,
Que en el rudo vaivén que sin tregua
Se agitan mis pensamientos,
Dudo si el rencor adusto
Vive unido al amor en mi pecho.
***
rosalía de castro
*
no colo imaginário funde-se o tempo e o sonho
porque rasgas a fenda do espaço sináptico
pai
o antiquíssimo impulso dilacera
virás partilhar a espuma do mar na palavra inaudível dos olhos
pergunto
virás
as mãos cheias de mundo
soltarão juntas a melíflua dádiva
dá-me esse dia que eu entrego-te o brilho da criação
que sono dormes agora na inerte inquietude do corpo
renasces alado na curva do sopro
não existem pegadas no peito celeste das aves
todos nascem quando acordam
mestres de si
a alegria é a empresa que temos adiada
desprivatiza o silêncio e o pelourinho do sangue
a madrugada acende o canto de fogo
rego a horta por ti
crescem teus
inéditos risos nas folhas
que todos os dias se alongam verdejantes
guarda o sol dentro de ti
ansiolítica a noite quebrará o espelho
o lago renascentista fluirá suspenso
salgado
merífico na esfera azul
vou ajaezar o caracol
saio de coração às costas
já te abraço principalmente
fátima vale
*
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