As tuas cartas vêm tocadas
duma ideal melancolia
não sei quem és, e todavia
beijo essas letras desmaiadas.
Como as violetas perfumadas
que a sombra esconde à luz do dia,
as tuas cartas vêm tocadas
duma ideal melancolia.
Nas minhas horas tresloucadas,
horas de febre e de agonia,
como esperança fugidia,
de mil quimeras iriadas,
as tuas cartas vêm tocadas...
***
António Feijó
*************************
Teus miimos calor não têm,
Teu beijo é frio de gelo,
Não satisfaz, nem também
Me importa tê.lo ou não tê-lo.
O que me faz recebê-lo
Cativo do teu desdém,
É eu ter forjado o elo,
Da escravidão que me tem
A ti preso, e que subjuga,
Quer seja rei ou pastor,
Desde o dia em que nasceu.
Desta sina não há fuga,
Mas na escravidão d'amor,
O mais escravo sou eu.
***
Xavier Cordeiro
Ponte de Lima (1880-1919)
***********************************
Do bravo mar aonde às voltas ando,
Ora tremendo as ondas, ora o vento,
Na esperança maior de salvamento
A minha barca vai à costa dando.
Pus os olhos na costa, imaginando
Achar remanso de perigo isento,
Vendo porém frustrado o pensamento,
Louvo o mar já de mais seguro e brando.
Ai fementido amor, amor tirano,
Que onde minha esperança tinha posta
Me trouxeste a fazer naufrágio amargo!
Porém ainda comigo foste humano,
Que mais quero perder-me dando à costa,
Que andar com mil temores em mar largo.
***
Vasco Mouzinho de Quevedo Castel Branco
****************************************************
Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente...
***
Tomaz Kim
Lobito (Angola) - 1915 - 1967
***********************
A flor que me não deste
e, esquiva, recusaste,
naquela tarde triste,
naquela tarde agreste,
- uma rosa amarela
debruçada na haste - foi afinal aquela
a flor que me entregaste,
naquela tarde triste,
naquela tarde agreste!...
***
Saúl Dias
*********************
Nesta hora, enquanto te olho, lembro
Aquele sorriso aberto entre bem poucas flores de Outono.
Eu contando histórias... tu sentindo
A minha timidez cortada de olhares rápidos.
Assim foi... até que um pássaro voou cantando.
Depois, o ondular vibrante dos pinheiros,
Nossos corpos rolando
Nos planos inclinados de um sol quase a extinguir-se.
O próprio tempo esquecendo-se
De nos ver inseparados.
***
R uy Cinatti
******************************
Este poema começa por te comparar
com as constelaçoes,
com os seus nomes mágicos
e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica
que sem ti a astronomia
é uma ciência infeliz.
Em seguida, duas metáforas
introduzem o tema da luz
e dos contrastes
petrarquistas que existem
na mulher amada,
no refúgio triste da imaginação.
A segunda estrofe sugere
que a diversidade de seres vivos
prova a existência
de Deus
e a tua, ao mesmo tempo
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza
e do espaço criador
do teu silêncio.
Uma hiérbole, finalmente,
diz que me fazes muita falta.
***
Pedro Mexia
************************
Quente, o teu coração quente
pulsa no lusco-fusco.
Palpita em toda a casa
deserta que nos vê.
Galga as sacadas altas,
corre nas avenidas.
É o silêncio do amor
que abre as veias na tarde...
Quente, o teu coração quente,
é uma estrela escuro
que a pele das tuas mãos
prolonga em minha pele...
quem te amou e é já morto
renova a primavera.
Oh! doce comunhão
de desejo e infinito,
de saudade e de céu,
de paraíso e grito!
Água clara e tremente
a boca, a sede, a fonte.
Flor de sangue à corrente
o teu coração quente.
***
Natércia Freire
***********************
Dizem, meu amor, que neste inverno os ventos
passarão a mão pela seara e levarão o trigo;
que os dias serão escuros e frios - e tão curtos
que neles não caberá paixão alguma, por pequena
que seja. Contam que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e que as árvores crescerão
como feixes de serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o céu. E acrescentam que
os pássaros adivinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã - ouço-os bater as asas
num aceno triste; partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.
Só a casa ficará de pé a olhar a planície. E
dentro dela os sonhos e as recordações do verão -
retratos dos lugares que nunca visitámos, uma camisa
de linho no espaldar da cadeira, um livro para sempre
interrompido sobre a cama. Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha. Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao ver-nos atravessar a sombra da luar.
Ignoravam, então, o inverno.
***
Maria do Rosário Pedreira
*****************************
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.
***
Manuel Alegre
*************************
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas