Sem ti, amiga, o tempo vai tão lento
que um Dia me parece mais que um Ano!
Mas contigo a meu lado voa o tempo,
e um Ano é uma Hora ou até nem tanto…
Sem ti, amiga, Inverno carrancudo
se me afigura o mais risonho Estio.
Mas a teu lado o V’rão domina tudo,
mesmo o tempo em que os lobos têm frio…
Sem ti, o Meio-Dia é noite escura.
Contigo, à Meia-Noite o Sol fulgura.
E assim posso dizer-te, com certeza,
que reduzes ao nada a Natureza!
***
Andrej Morsztyn
Polónia (1613-1693)
********************************
[trad: david mourão ferreira]
Os dias crescem. Deixou de fazer frio.
O sol e a calma sobem
à montanha coberta de gelo
memória do inverno;
em nossas veias se derrete o passado testemunho da da noite
e do gelo, esta estação inicial
e interminável. A terra com a sua cruz
que lhe fizemos
com a nossa convivência
o nosso inferno.
***
Nína Björk Árnadóttir
Islândia (1941 - 2000)
********************************
[trad: cas]
a partir de uma versão em castelhano
Neste ano também houve um Outono magnífico, um Novembro ensolarado
mas por toda a parte só velhos deambulavam de um lado
para o outro, interminavelmente,
mexiam-se com lentidão na forte luz solar
como punhos a debulhar milho.
Eu andava entre eles, cabeça baixa, no parque, nas avenidas.
Não queria que vissem: a morte lembra-me apenas
o teu corpo que sempre se torna de novo primaveril.
Foi isso que procurei no bago de uva caída no passeio:
ver se nele descobria a presença na rua
do teu dinamismo doce,
o teu sorriso a condizer com o céu
rodeado de folhas que borboleteiam espessamente, amarelas de morte.
***
Sandor Csoóri
Hungria - 1930
*********************************
[trad: pál ferenc
rev: maria demeter]
As coisas que existiam antes de tu morreres
e as coisas que surgiram depois:
Às primeiras pertencem, antes do mais,
as tuas roupas, as jóias e as fotografias
e o nome da mulher que t deu o nome
e também morreu jovem...
Mas também um par de receitas, o arranjo
de um certo canto da sala,
uma camisa que me passaste a ferro
e que guardo cuidadosamente
debaixo da minha resma de camisas,
algumas peças de música, e o cão
sarnento que por aí anda
com um sorriso estúpido, como se ainda aqui estivesse.
Às últimas pertencem minha caneta,
um perfume conhecido
na pele de uma mulher que mal conheço
e as novas lâmpadas que pus no candeeiro do quarto
que iluminam o que leio acerca de ti
em todos os livros que leio.
As primeiras recordam-me que exististe,
as últimas que j´nõ existes.
que sejam quase indistinguíveis
é o mais difícil de suportar.
***
Henrik Nordbrandt
Dinmarca (1945)
************************************
[trad: josé alberto oliveira]
Silêncio
de salgueiro
sobre um braço de água parada,
silêncio
de nuvens imóveis,
silêncio
de caminhos intransitivos.
Solidão
de pássaro sobre o p^ntano,
solidão
de datas insaciáveis.
Dor
de sol ensanguentado,
dor
d luz n penumbra,
dor
do não-vivido.
***
Ivan Minatti
Eslovenia (1924)
**************************
[trad. aleksandar jovanovic]
Túmulos de aldeia em ruínas
sem cruz - colinas húmidas apenas,
acima pereiras silvestres
choram com nervs scretos
- estirados ao vento -
Lamacentas e ecuras.
Névoas pisoteiam o pedregulho deserto.
Atrás
pés
cheios de água
afundm na terra verelha.
***
Blaje Koneski
Macedónia (1924 - 1993)
************************************
[trad: aleksandar jivanovic]
Sobre o urzeiral nevado,
a granja e a pilha de lenha negras
e o abeto escuro, possante, água-forte
sobre uma estrela, soprada e impassível.
No charco e aço do luar
bizarras me parecem as plantas,
o machado rombo e o pote quebrado
pelo gelo lúcido-trnsparente.
De repente o frio morde até aos ossos
e a minha solidão busca o tiro
que estica o horizonte até à eternidade
na minha desafortunada vadiagem.
Até que me interno mata
e encontro a lebre torturada,
inanimada e rígida
no seu sangue sobre a neve.
Só um branco intenso trago
em mim, e dessa luz estou prisioneiro;
e nada é tão apertado e tão justo
como o próprio corpo.
***
Maurice Gilliams
Bélgica (1900 - 1982)
***********************************
[trad: fernando venâncio]
Paredes antigas e vermelhas,
velho aroma estranho de carvalho,
canção mole de aranha fiandeira,
pó, e dos objectos sobre o cheiro;
nas mesas todas, muita comida,
muitas taças e vinho dourado,
sobe-desce de linhas de fumo.
Um silêncio cansado e estranha
após o almoço na sala antiga.
Um silêncio defunto e estranho,
madeira podre um verme mastiga.
Fora o vento do outono retumba
nos olmeiros, em negros ramos nus:
um silêncio nublado e estranho
em que uma mosca zumbe,
zumbe, zumbe...
e morre nos caixilhos soturnos.
***
Gustav Krklec
Croácia (1899 - 1977)
**************************************
[trad: aleksandar jovanovic]
Uma semente germina no meu cérebro,
sugando a medula da vida e o seu fluxo.
O meu barril terá a cor do sangue, eu sei
que acabarei por enlouquecer.
O meu túmulo não terá coroa de flores,
não terá uma cruz cristã com palavras de luz.
Vento do norte. Uma noite de Inverno.
Mas debaixo do gelo a seiva há-de ferver.
***
Elmer Diktonius
Finlândia (1896 - 1961)
***********************************
[trad: josé agostinho baptista]
A subir passo a passo pelos degraus acima
Folhagem côr-do-sol nos pés arrastarás
E olhando para o céu um dia chorarás...
Onda amarela... aos poucos teu rosto empalidece
Vê o horizonte ao rubro: é tarde e anoitece...
Descai em sangue a rosa, sangue sem fim derrama
O rouxinol sangrento, pousando, o ramo inflama
Porque o mármore é bronze? Onda será, ou chama?
Pela alma bem adentro, falar secreto é esse
Vê o horizonte ao rubro: é tarde e anoitece...
***
Ahmet Hasim
Turquia (1884 - 1933)
****************************************
[trad: doina zugravescu]
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas